segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

Que beleza de melancolia…

Elephant Gun. Com seus quase seis minutos de duração, a música do grupo americano Beirut foi, de longe, a melhor revelação de Capitu, a microssérie baseada em Dom Casmurro exibida pela Globo na semana passada. A canção tem pouco mais de dez versos. Traduzido, um de seus trechos diz mais ou menos assim: Se eu fosse jovem, eu fugiria desta cidade. Enterraria meus sonhos no subsolo.
Há cerca de um ano, o Zeca Camargo inclui The Flying Club Cup, segundo álbum do Beirut, na lista dos “12 melhores discos que você não ouviu no ano de 2007”. “Meio melancólico, é verdade. Mas que beleza de melancolia…”, ele escreveu. Elephant Gun não está no álbum, mas também é uma beleza de melancolia. Ela é do EP Lon Gisland, também de 2007.
Elephant Gun é o nome de uma arma de calibre largo, originalmente fabricada para caçar elefantes e animais perigosos. Elephant Gun, a música, embalou os exageros de Capitu e Bentinho na aguardada microssérie dirigida por Luiz Fernando Carvalho.
O Diogo Mainardi disse que Capitu teve um aspecto circense. Para mim, o Bentinho de Luiz Fernando Carvalho é a cara de um personagem do espetáculo Alegría, do Cirque du Soleil. Para o Mainardi, ele é o Dick Vigarista, do desenho animado Corrida Maluca. Eu não sei quem é Dick Vigarista, mas deve ser alguém corcunda, de gestos, figurino e maquiagem exagerados.
Mainardi chama a linguagem de Luiz Fernando Carvalho de grotesca, afetada, espalhafatosa, cheia de contorcionismos e de malabarismos. Diz que Machado de Assis é o oposto. “No livro Dom Casmurro, o relato de Bentinho é espantosamente seco e desencantado”, escreveu. Eu só vi três dos cinco capítulos de Capitu, mas concordo com Mainardi.
Com uma linguagem inclassificável até para os padrões de seu diretor, Capitu é uma mistura de ópera e circo. Em alguns momentos - como na divisão da narrativa em capítulos e nas cenas passadas em cenários imaginários - carrega referências do filme Dogville, de Lars Von Trier. Em outros, bebe na fonte de Sofia Coppola e seu Maria Antonieta. No chato e pretensioso trabalho da diretora, um tênis All Star divide o guarda-roupa com sapatos do século XVIII e os modernos Strokes embalam os devaneios da princesa austríaca na corte de Versalles. No devaneio de Luiz Fernando Carvalho, Dona Gloria se veste ao som de God Save the Queen, dos Sex Pistols, e Capitu e Bentinho dançam valsa com fones de ouvido brancos. Isso para ficar em poucos traços da liberdade poética – e põe liberdade nisso! – que o diretor despendeu em seu novo trabalho.
Luiz Fernando Carvalho está para a televisão assim como Marcelo Camelo está para a música popular brasileira. Os dois têm mais em comum do que podem supor. Afora a barba cuidadosamente desgrenhada, ambos nutrem uma predileção pelo apelo a recursos pretenciosamente intelectuais em suas respectivas áreas de atuação. Também dividem a preferência por mulheres ligeiramente mais jovens. Camelo – 30 anos na identidade, 45 na aparência - assumiu namoro com Mallu Magalhães – 16. Carvalho – 48 -, dizem, se encantou – além dos sets de gravação - pelos olhos de cigana oblíqua e dissimulada de Letícia Persiles – 25 -, a bela, desconhecida e impecável intérprete de Capitu na primeira fase da microssérie.
Entre outros trabalhos, Carvalho também dirigiu as séries Hoje É Dia de Maria, A Pedra do Reino e Os Maias. No cinema, fez Lavoura Arcaica. Seu filme é, de longe, magnífico e único no cinema brasileiro. Com um pouco mais de humildade e com 20 ou 30 minutos a menos, ele também teria sido visto e entendido por mais pessoas. O que talvez não esteja nos planos do majestoso e incompreensível espetáculo do diretor.

domingo, 1 de junho de 2008

O coador da sardenta


A menina com cara de sapeca e calcinha modelo coador de café é a Evangeline Lilly. Ou a Kate, se você preferir. A sardenta mais linda de Lost. A foto, tirada por Bowen Smith, foi feita para a seção Woman We Love da edição de março de 2007 da Esquire.

E não foi só Duas Caras que chegou ao fim. A quarta temporada de Lost também acabou de terminar. Nos Estados Unidos.
No último episódio, nós ficamos sabendo quem era o morto que estava no misterioso caixão que apareceu no final da terceira temporada. Se a coisa toda seguir nesse mesmo ritmo, Lost vai ter que durar mais que Seinfeld até que a gente descubra tudo sobre aquela ilha estranha.
No final da terceira temporada tocou Wonderwall, do Oasis. Desta vez tocou Pixies. O Lucio Ribeiro acha que as coisas caminham para que a próxima temporada termine ao som de Sonic Youth ou Mudhoney. Bom, muito bom.
O final da terceira foi mais eletrizante. Me deixou com a mão suada e sem conseguir dormir. A novidade dos Flashforwards. O Jack barbudo e atormentado. A Kate mais gata do que nunca. Wonderwall. Aquele funeral vazio.
Se bem que agora teve a cena em que o Locke é finalmente revelado como o morto no caixão misterioso, com aquele sorriso funesto. E isso tudo não durou mais que cinco segundos. Mas teve ainda a Sun em Londres, a correria no cargueiro, o helicóptero caindo. Lost sempre acerta.
Desta vez eu não perdi o sono na hora de dormir. Mas acabei tendo um pesadelo com um acidente aéreo e acordando no meio da madrugada. No final das contas, deu na mesma. Sinistro.

Segundo informado com antecedência pelo blog campeão Lost in Lost, foram gravados três finais diferentes para a última cena da quarta temporada. Os outros dois encerramentos foram exibidos no programa ABC News no dia seguinte ao episódio final. Veja o vídeo no YouTube clicando aqui.

Deixa para lá

E a novela Duas Caras acabou ontem. E eu ainda não consegui entender como o ex-napudo do Ferraço conseguiu continuar exatamente com o mesmo corte de cabelo – para não falar no mesmo tom de luzes - depois de dois anos de cadeia. Na certa, ele - que nem tinha curso superior e deveria estar dividindo a mesma cela com outros 327 parceiros – recebia visitas semanais do Fernando Torquatto no chilindró.
O Torquatto é aquele esquisito que não desgruda do Gianecchini e que adora maquiar, pentear e fotografar todos os bombados e siliconadas da Globo. Estranho demais. Eu olho para a cara dele e o imagino em um loft todo moderno e cheio de gatos. Voltando no tempo, vejo ele sendo criado pela avó.
Mas isso é outra história, deixa para lá.
Se bem que agora ele casou, né? Com a filha adotiva do ex-cantor baiano e atual ministro da Cultura Gilberto Gil. Ou ex-ministro baiano e atual cantor internacional, sei lá.
Tem gente que não tem sorte, mesmo. Dizem que é traumatizante o momento em que uma criança descobre ter sido adotada. Depois passa, mas na hora é uma barra. Para a mulher do Torquatto, coitada, o triste mesmo deve ter sido descobrir que ela era irmã da Preta Gil. Imagina?
Deixa para lá.
Como eu dizia, o Torquatto deve ter picado cartão na porta da cadeia onde o Ferraço se hospedou. Fico imaginando ele com aquelas camisetas justinhas e o cabelo propositalmente despenteado chegando lá com uma touquinha, um vidro de água oxigenada e um pincel nas mãos. Imagina a cara dos outros encarcerados vendo a cena?
E o Ferraço saiu de lá com os mesmos óculos também. E com a mesma bolsa descolada e o mesmo BlackBerry. Depois dizem que a gente não pode confiar nos policiais brasileiros. Eles guardaram tudo direitinho para ele durante dois anos, coitados. E olha que nós estamos falando do sistema carcerário do Rio de Janeiro, que é muito pior que o de Abu Ghraib.
E por falar no BlackBerry do Ferraço, vocês viram que ele tocou logo depois do cara ser solto? Isso quer dizer que ele também deve ter levado o carregador e pedido para algum policial gente boa carregar o celular enquanto ele cumpria a pena. E a coitada da Maria Paula deve ter continuado pagando a conta do telefone também. Porque se era pré-pago a operadora teria que ter cancelado a habilitação por falta de inserção de créditos. E se era pós-pago a ex-empacotadora do Extra teria que ter continuado pagando a assinatura, mesmo sem ninguém usar. Se bobear ela ainda pagou unzinhos para os PMs deixarem ele com o celular lá dentro. Acabei de imaginar aquele magrelo gigante agachado no meio de quinhentos negos e jogando Tetris com o seu BlackBerry. Sem noção.
E o filho dele, o Renato? Coitado. De tão traumatizado com a prisão do pai, deve ter enfrentado problemas de desenvolvimento. Não mudou nada, mesmo depois de tanto tempo. Bem que eles poderiam ter colocado outro ator para fazer o menino no futuro, não é? Ficou mais sem noção que ver a Ana Paula Arósio na outra novela. Ela com aquela cara linda de capa de Capricho e aquele monte de filhas gigantes que já deveriam ter nascido quando ela ainda aprendia falar. Deixa para lá.
E teve a Maria Sílvia Barreto Pessoa de Moraes. Li em algum lugar que a boca que ela fazia quando ficava brava parecia o bico de um Conguinha. Lembra do Conguinha? Sem noção. E aquela franjinha que todo mundo imitou nas ruas? Parece fácil. Corta o cabelo daquele jeito e fica a cara da Alinne Moraes. Coitadas. Vou comprar um Ray Ban Wayfarer para ver se eu fico a cara do Brad Pitt também. Fácil.
O que eu não consegui entender foi como a Sílvia saiu de casa com a roupa do corpo e foi acabar em Paris com um marido que é a cara do Rico Mansur e um amante favelado. Isso para não falar que ela ainda estava sendo procurada pela polícia. Ninja demais. Depois de ser atropelada pelo ricaço, ela, no mínimo, deve ter convencido ele a levá-la direto para o centrão do Rio, onde eles compraram documentos e passaportes falsos. E de quebra disse que eles tinham que levar um motorista brasileiro para lá – o tal favelado. Ela deve ter argumentado que os chofers franceses são incapazes de dirigir tão bem por Paris quanto um carioca chucro que não deve nem saber em que cidade fica essa tal de Catedral de Notre-Dame.
Tudo bem que a Alinne Moraes e aquela cara e aquelas pernas enormes são capazes de desestruturar qualquer um. Mas daí para o cara que parece o Mansur embarcar nessa barca furada de primeira é meio esquisito, não é não?
Deixa para lá.

*Essa foto, onde a Giselle Itié virou a Amy Winehouse, foi feita pela Hanna Jatobá para uma exposição em São Paulo.

sábado, 26 de abril de 2008

Ela é a lenda

Amy Winehouse perdeu o controle. De novo. Vou criar o movimento Free Amy, pensei. Cheguei a imaginar faixas e camisetas lotando as ruas do mundo. Que espécie de policiais são esses que não entendem o que se passa na cabeça de alguém que escreve letras como a de Love is A Losing Game?
O resultado foi que a justiça acabou sendo mais rápida que eu. Resolveram soltar a moça enquanto eu perdia dois dias inteiros traçando as diretrizes da minha organização.
Uma pequena nota na Veja de hoje, que reproduzo mais abaixo, dá uma idéia dos maus bocados pelos quais ela passou entre o momento do surto até ir parar do outro lado das grades. As fotos são reproduções do Daily Mail.


Amy a caminho da delegacia: firme no coque, desesperada no olhar...


...e sem humor para uma pose.

Desventuras de Amy*
Até para o padrão Amy Winehouse, completa epítome de artista maldita, a noite de terça para quarta foi movimentada. Às 20h30, já sob várias influências, entrou num pub e quis jogar sinuca. Não tinha lugar? Deu um soco na cara de um jogador e pegou o taco. Cansou, saiu trançando as perninhas e foi para um bar. "Ela gritava: sou uma lenda, manda todo mundo embora", conta uma testemunha. Cansou, saiu cambaleando, tentou chamar um táxi. Um homem quis ajudá-la, foi mal interpretado e levou uma cabeçada, felizmente amortizada pelo coque. Às 4, chegou em casa sem chave – amigos arrombaram a porta da garagem. Não acabou ainda: a vítima da cabeçada prestou queixa e Amy foi chamada à delegacia. Acabou a sexta-feira presa, sujeita a seis meses de cadeia e multa equivalente a 8.000 reais.

*Revista Veja, Edição 2058, 30/4/2008.

sexta-feira, 25 de abril de 2008

Um outro mundo


Álvaro: “Beth Gibbons canta alguns dos versos mais lindos da música contemporânea”

Não sei exatamente há quanto tempo leio o que o Álvaro Pereira Junior escreve na Folha. Deve ser algo perto de 14, 15 anos. Sei que o tempo tem exatamente a idade do Folhateen. Então fica fácil de saber, é só descobrir a idade do caderno.
O que eu sei, com certeza, é que na última segunda, dia 21, li o que foi, para mim, seu melhor texto. Para quem sabe de quem eu estou falando e, principalmente, do que significa um texto da pessoa de quem eu estou falando para mim, isso não é pouca coisa. Não é mesmo.
Com o título Em vídeo, o Portishead chega à perfeição*, o jornalista escreveu uma declaração de amor à banda inglesa. Eu assisti ao vídeo, claro. Concordei com cada vírgula. Mas isso é fácil. Além de perfeito, eu diria que Portishead in Portishead é também hipnótico. Tenso. E absolutamente triste.
Reproduzo abaixo um trecho do que o Álvaro escreveu. Em texto, ele chega à perfeição. Em seguida tem o vídeo. Ele precisa ser assistido. Na noite mais cinza da sua alma. No lugar mais escuro onde você se encontrar.

Musical e emocionalmente, um outro mundo. Desinteressado de grandes explicações, mas com obsessão pelo detalhes. Frio e distante na forma, mas desesperadamente confessional no conteúdo. Aflito, vital. Uma absoluta obra-prima contemporânea. Assim é "Portishead in Portishead", um vídeo com sete canções novas dessa instável banda inglesa que lança este mês seu primeiro álbum em 11 anos.
Na semana retrasada, "Portishead in Portishead" foi transmitido exclusivamente no próprio site da banda, o feio e impenetrável portishead.co.uk. Pouca gente ficou sabendo, menos gente ainda conseguiu ver, tamanho o congestionamento. Mas agora, por dois meses, o vídeo está disponível no site da Current TV (www.current.tv), a moderna emissora de TV + site presidida por Al Gore.

*Escuta Aqui, Folhateen, Folha de S. Paulo, 21/4/2008.

sábado, 19 de abril de 2008

Ben Yorke


Medo: parece o Thom Yorke cantando No Surprises, mas é o Ben, de Lost, dizendo que tudo vai ficar 'ok'

Eu sempre achei que o ator Michael Emerson, que faz o Benjamin Linus em Lost, lembrava um pouco o Thom Yorke, do Radiohead. Isso até assistir ao vídeo que o canal ABC lançou para promover a volta de suas atrações à programação nesta semana. Agora eu tenho certeza. No final do vídeo, o esquisitão Ben aparece dizendo que tudo vai ficar “ok” em uma cena futura da série. O close me fez lembrar, na hora, do clipe genial de No Surprises. Aquele onde Yorke veste um capacete de astronauta que vai se enchendo de água. Sinistro.

sexta-feira, 18 de abril de 2008

Ctrl C + Ctrl V


"o cavernoso Nick Cave"

O cozinheiro Edu Guedes enche o seu blog com receitas. A Priscila Fantin não pensa duas vezes antes de postar salmos, pensamentos e correntes daquelas que se espalham via e-mail no seu. A Samara Felippo também. Outros brincam com fotos no Photoshop e correm mostrar. Ou exibem letras de músicas, vídeos. Quando estão sem assunto, uma boa colagem costuma resolver o problema.
Outros blogueiros também não são de se intimidar na hora de encher a lingüiça dos seus diários com colaborações.
Foi por isso, para não bancar o diferente, que eu decidi que hoje vou usar uma reprodução aqui. É isso, também vou apelar para colaboradores. O de hoje se chama Nick Cave e ele não é um homônimo do cantor australiano. É ele próprio. Se bem que não se trata de algo que ele escreveu. O texto abaixo traz, na verdade, a transcrição de trechos de uma palestra que ele deu em 1999 numa universidade de Viena. O tema é A Canção de Amor. A belezura, na íntegra, saiu originalmente na revista gringa Another Magazine.
A versão que eu mostro aqui foi publicada pelo Lucio Ribeiro na antiga coluna que ele tinha na seção Pensata, na Folha Online. Logo, isso faz dele o nosso colaborador de hoje. E não o Nick Cave, como eu tinha dito antes. Ele diz mais ou menos assim:

Entre citações musicais e literárias, o cavernoso Cave relaciona seu modo de compor love songs com a morte de seu pai e a proximidade que isso o trouxe de Deus.

"...A canção de amor é uma canção triste, o som de sua própria desgraça. Nós todos experimentamos por dentro o que a lingua portuguesa chama de 'saudade', que traduz uma inexplicável sensação de desejo por algo ou alguém fora do alcance, um inenarrável e enigmático grito da alma por algo que não teremos...E é esse sentimento que vive no reino da imaginação e da inspiração. Que é a base da canção triste, da canção de amor. Que é a luz de Deus, que chega às profundezas, que remexe nossas feridas.

"...No rock contemporâno, a área em que atuo, a canção de amor parece menos inclinada a visitar a tristeza da alma. Excitação sempre, raiva às vezes, mas raramente fala sobre verdadeira tristeza. Bob Dylan sempre falou dela. Leonard Cohen sempre lidou com ela. E hoje ela apavora a PJ Harvey...

"...Na maravilhosa "Perfect Day", do Lou Reed, ele monta uma agenda de eventos que poderia levar a um dia perfeito. Um dia montado todo ele com momentos do amor belo, onde ele (Reed) e sua amada sentam na grama de um parque e bebem sangria, dão comida para os animais, vão ao cinema etc. Mas é uma parte da letra que se esconde na escuridão do terceiro verso, "I thought I was someone else, someone good" (Achei que eu fosse outra pessoa, alguém bom), que leva essa canção sentimentalóide à obra-prima da melancolia que ela é."

terça-feira, 15 de abril de 2008

Blogueiros quém, quém


Essa foto eu achei no Google com a legenda “para se esconder dos paparazzis”

Preciso falar mais sobre coisas que me irritam ou então esse blog vai perder totalmente a sua linha. Isso para o caso de algum dia ele ter tido alguma.

O novo clipe da Madonna é bom, mas o fato da música – e o próprio vídeo – parecer mais um trabalho do Justin com participação dela, e não o contrário, me irrita. E o pior é que eu nem falei sobre isso no post anterior. Mas esse assunto é passado.

Hoje eu quero falar mal de blogueiros. Virou moda. O Diogo Mainardi falou, o Álvaro Pereira Júnior falou. Ou seja, todo mundo que realmente importa falou. Isso me inspira. Não tenho nada contra aqueles blogueiros que, para usar as mesmas palavras do Álvaro, mantêm a sanidade mental. O que eu odeio são aqueles a quem o mesmo Álvaro chama de blogueiros em tempo integral.
O BlogLog, site do portal Globo.com que agrega blogs de globais e outros famosos, é uma boa vitrine para essa espécie. Lá, com exceção de uma dúzia de famosos em plena atividade sob os holofotes, um bando de náufragos da fama se esforçam para ter seus diários lidos e, quem sabe, figurar na lista dos mais visitados e comentados. Chega a ser deprimente.
Além de cultivar expressões cafonas, como se referir aos seus leitores como bloglindos ou distribuir estalos, afagos e por aí vai, os célebres reservam tempo para falar sobre tudo e sobre todos. Sempre com a mesma falta de categoria. Postam fotos de viagens, de filhos, sobrinhos, namorados. Divulgam roteiros com os lugares onde estarão trabalhando, dançando, namorando. Desabafam. Dias depois, no mesmo lugar, se queixam da invasão de privacidade e do assédio de fotógrafos e jornalistas. Joana Balaguer reclama da incompetência do júri do Dança dos Famosos – quadro do programa Domingão do Faustão - que a desclassificou. Dos paparazzis que não a deixam ter amigos em paz. Carolina Dieckmann fala sobre o caso Isabella. "Enquanto não houver prova, não devemos julgar quem quer que seja", escreveu. A lista de aberrações é quilométrica.
Salvam-se um ou outro blog. E só. Um dos bons lugares para se perder alguns minutos foi lançado há poucos dias e alçado direto para a lista dos mais visitados do site. Trata-se do diário do apresentador Marcos Mion. Aquele que já foi judeu no programa Sandy e Junior, revelação na MTV, aposta na Band e, no final das contas, acabou voltando para a MTV.
Na página, além de sacanear a "bregueira" dos seus companheiros de BlogLog, o apresentador opina sobre tudo e todos. Sempre no melhor estilo "metralhadora giratória". No post de hoje, por exemplo, ele lançou a campanha Sai da frente Aguinaldo!!!, que pretende tirar o blog do novelista Aguinaldo Silva do primeiro lugar entre os mais visitados e comentados do site. Também se presta a analisar a MPB. "Quem foi o puto que disse que cantar baixinho, sentado num toco de perna cruzada, usando um português que ninguém entende é legal?!!! Musica é boa quando vc pode gritar junto, dançar, mandar um pelado correria na tua mina, tá ligado?", diz.
Nunca pensei que fosse, algum dia, reverenciar o estilo do Mion. Foi, no mínimo, constrangedor vê-lo se transformar, há alguns anos, no bombado depilado e narcisista que insiste em aparecer pelado na MTV. Ou então naquele que beija o VJ Casé no horário nobre, usa saia. Se bem que isso deve ser o que chamam de atitude e eu não sei de nada. Se bem que ele acabou ganhando créditos comigo ao hostilizar a Sandy ao vivo, em rede nacional, em uma premiação da emissora, há algum tempo. Não que eu odeie a irmã do Junior, mas foi sensacional ver o apresentador da festa dizer na cara dela que sua imagem estava desgastada.
No post em que analisa a MPB, Mion ainda se dispõe a opinar sobre o clássico O Pato, do João Gilberto. Com o mesmo estilo de quem não se leva a sério, totalmente na contramão dos globais e náufragos da fama que povoam o mesmo BlogLog, ele explica o motivo pelo qual a música não pode ser boa. "Quem é que transa com ‘o pato, veio correndo alegremente, qué, qué, qué’?!!! Nem sei se é alegremente... só ouvi esta música uma vez na vida, antes de usar o CD como pires pro café."
Mais tosco impossível.

sexta-feira, 11 de abril de 2008

O peso das horas

Em um primeiro momento, meu avô foi para mim apenas o homem de cabelos de neve que morava na segunda casa de um velho beco. A casa da calçada quadriculada, do muro baixo e árvore gigante, cuja sombra atravessava a varanda e invadia a sala. Depois, ele foi aquele que me levava para cortar o cabelo, de ônibus elétrico, e comprava pão de queijo para mim. Também foi o que me entregava o almoço no trabalho. E tantos outros em outros tempos. Sempre grande, porque as pessoas são para nós exatamente do tamanho das lembranças que guardamos delas.
Depois de crescer eu descobri que o meu avô não era cada um desses separadamente. Antes de tudo, ele era alguém que ocupava diversas lacunas em cada uma das pessoas que eu fui durante a vida. Porque somos todos repletos de lacunas. E em cada momento de nossas vidas encontramos pessoas que preenchem o tamanho exato de cada um desses vazios. Para o bem ou para o mal.
Diferentemente do que acontece em mim, aos poucos as lacunas que outrora eu preenchi no cérebro do meu avó vão se apagando. As minhas e as de todos os outros. Suas memórias vão desaparecendo feito o brilho das velhas fotografias sobre a cômoda no quarto.
Ele é um homem cujo cérebro vem sofrendo degenerações. Essa perda progressiva da memória, a que chamam de doença de Alzheimer, aos poucos, mas de maneira violenta, rouba as suas lembranças. E um homem não é nada se não tem do que se lembrar.
Enfiado em uma poltrona azul, na sala de casa, aos poucos meu avô vai se afogando na sua melancolia. Feito um náufrago que apenas espera. O almoço que demora, o dia que não passa. A hora de colocar o lixo na rua. Esperando. Com o peso das horas lhe forçando os ombros e lhe tomando, aos poucos, a alegria de lembrar.
As histórias de quando vivia na roça. A valsa que animou seu casamento. Os passeios na bicicleta azul. O trabalho como engomador, como pintor de paredes. A companheira que já partiu. Tudo se apaga.
A princípio, a vida de alguém com a doença de Alzheimer é uma constante luta contra o esquecimento. Em seguida, a vítima se acostuma com a degeneração de suas lembranças e passa então a se acostumar - ou talvez a se entregar - à implacável ação do tempo. Como uma brisa que invade a sala e espalha mofo pelas paredes velhas, em vez de sacudir as cortinas.
Se um homem não é nada além das lembranças que carrega, quando perde sua capacidade mental ele deixa de existir integralmente e passa a viver de pequenos súbitos de lucidez. Como espectros de sanidade sufocados pela ação do tempo.
É incrível como apesar de tudo ainda existe, em homens como o meu avô, uma integridade e uma dignidade que não se fabricam mais. Mesmo quando ele se afunda na imensidão da sua poltrona azul. Mesmo quando ele se acostuma a esquecer o que foi. Talvez porque homens como aquele sejam feitos de outros tipos de átomos e emoções. E apesar de serem igualmente frágeis e inofensivos diante do peso do tempo, envelhecem lutando para não se esquecerem daquilo que Camões chamou de "a grande dor das coisas que passaram".

Texto publicado na revista Expressão Feedback, edição 125 (março de 2008).
Imagem: Clock Explosion, Salvador Dalí.

domingo, 16 de março de 2008

Sobre velhos e vírgulas

Gostei demais de Onde os Fracos não Têm Vez. Já disse antes. Mas até pegar o livro Onde os Velhos não Têm Vez nas mãos, hoje, não achava que me interessava ler a obra da qual o longa foi adaptado.
Só até pegá-lo nas mãos.
Li alguns trechos na livraria. O texto, econômico e tenso, conquista nos primeiros minutos. Apunhala. Comprei o livro e engatei sua leitura nas horas seguintes. Terminei. 252 páginas. Sem respirar.
Até a primeira metade, fui perdendo um pouco da empolgação. Não conseguia me desprender das imagens do filme. Bastava que uma ação fosse minimamente diferente daquela que eu vi nas telas para eu perder a concentração. Voltava a leitura e tentava me desvencilhar do longa. Difícil. O filme me arrebatou de maneira descomunal e ainda é recente demais na minha cabeça. Impossível separar. Alguém deve estar certo quando diz que bons livros e bons filmes - quando os segundos são adapatados dos primeiros - acabam se estragando quando são vistos e lidos – ou lidos e vistos – em um mesmo curto espaço de tempo. Verdade.
Não foi suficiente para eu gostar menos do texto e da história escrita por Cormac McCarthy (foto). Venci a impaciência. Virei fã desse autor. Preciso conhecer toda sua obra. Preciso conhecer pelo menos algo mais da sua obra. Algo que ainda não tenha virado filme.
É curioso constatar o que o roteiro dos irmãos Coen deixou de fora da adaptação. É curioso como isso torna o filme ainda mais genial. Igualmente econômico e tenso, sem arestas. O livro traz mais da história. Na medida exata. Não deixa sobras, mas traz mais.
“O mundo que vi não fez de mim uma pessoa espiritualizada”, diz o Xerife em um determinado momento do livro. Sua espiritualidade e seu horror diante da miséria humana são filosoficamente explorados no texto. O fato dele, o texto, praticamente não trazer vírgulas, chega a soar estranho. Mas com o tempo você entende. Quem é que precisa delas? A narrativa toda é quase um sussurro. Agonizante a aterrorizador. Sem tempo para vírgulas ou devaneios. Na medida exata da miséria humana.

sexta-feira, 14 de março de 2008

A decadência de Niemeyer

Chegou a Brasília a exposição Oscar Niemeyer: Arquiteto, Brasileiro, Cidadão. A mostra é uma homenagem aos 100 anos do homem que desenhou a capital brasileira.
O catálogo do evento diz que setenta anos de inovação arquitetônica e surpresa inesgotáveis tornam o arquiteto o único brasileiro a ser lembrado no século XXX. O Brasil nunca teve muito do que se vangloriar mesmo.
Niemeyer é uma figura única. Daquelas que acabam sempre parecendo maiores que a sua própria obra, ainda que o que digam seja exatamente o contrário.
Brasília também é única e, apesar dos percalços de desigualdade que a modernidade suplantou à cidade perfeita, continua imperando como um verdadeiro museu de arquitetura ao ar livre. Isso ao menos na área ocupada pelo Planalto Central, uma ilha de fantasia rodeada de pobreza e violência.
Em uma entrevista à Playboy, há alguns meses, o colunista Diogo Mainardi disse que esteve apenas uma vez na cidade e achou tudo muito decadente. Esse é o ponto. Os belos desenhos de Niemeyer, vertidos à realidade em pleno cerrado, se deterioram e se esgotam com o tempo. Encardidas por fora, por dentro as construções são desconfortáveis, antiquadas e feias. Tudo muito decadente.
A imagem que ilustra a capa do catálogo é do Museu Nacional (foto), inaugurado recentemente no igualmente novo Conjunto Cultural da República. Diferentemente do que diz o texto, não há nada de inovador ali naquela construção. Sua forma, semelhante à de um capacete, é exatamente a mesma representada no concreto armado sobre o plenário do Senado Federal. Uma daquelas duas famosas esculturas – no formato de bacias, uma com a boca virada para cima e a outra para baixo - que tornaram o monumento do Congresso Nacional conhecido no mundo inteiro.
Há outro exemplos de repetição dos belos e inabitáveis desenhos de Niemeyer pelo resto do Brasil e do planeta. Mas talvez seja isso a que chamam de estilo. Niemeyer é gênio e eu não entendo nada de arquitetura.

A islandesa e o gigante sanguinário

Pequim é a sede da Olimpíada de 2008, que acontece em agosto. Logo, com a aproximação dos jogos, é natural que a mídia de todo o mundo esteja com os olhos voltados para a capital chinesa.
Também é natural que uma campanha piegas propague os costumes e as histórias traduzidas do mandarim para o resto do planeta. O que atormenta é saber que não haverá espaço em programas de variedades ou jornais e revistas para algum tipo de informação acerca da natureza ditatorial do regime chinês. Nem sobre os milhões de seres humanos que a mesma Pequim mantém em campos de trabalho.
Há algumas semanas o cineasta Steven Spielberg desistiu de dar assessoria a essa Olimpíada em protesto contra as políticas chinesas para o Sudão. O governo chinês garantiu que isso não atrapalhará o sucesso dos Jogos. Não mesmo.
Em artigo publicado na Folha de S. Paulo há algumas semanas, João Pereira Coutinho avaliou que, para Spielberg, o problema não está na repressão interna que a China promove sobre dissidentes políticos ou minorias religiosas. Ou na ocupação do Tibete. Nem nos milhares de homens que o regime executa anualmente por "delito de opinião". Apenas no Sudão.
“Uma coisa é matar chineses, desporto que manifestamente não impressionou Spielberg quando ele aceitou a honraria oficial de embelezar os jogos. Outra coisa, bem mais grave, é matar os habitantes de Darfur”, avaliou o colunista.
Não haveria problema algum no protesto do cineasta se ele fosse apenas parte de uma manifestação conjunta. Essa seria a sua bandeira, portanto. A história só pareceu estranha porque o único protesto contra os jogos, que realmente ganhou a mídia, se voltou para algo muito pequeno diante da grandeza do violento regime chinês.
Na semana passada, a cantora Björk encerrou um show em Xangai com uma homenagem ao Tibete. O gesto da artista islandesa ganhou uma notícia de rodapé no jornal O Globo. No fim do espetáculo, ela adicionou gritos de “Tibete! Tibete!” à música Declare Independence. A atitude irritou o governo chinês que decidiu investigar, a partir de agora, a vida de todos os artistas que estão programados para tocar no país.
A China invadiu o Tibete em 1951 alegando laços históricos com o território. Hoje ela reprime com violência e autoritarismo qualquer tentativa de obtenção de maior autonomia. Assim como a China, o resto do mundo conhece muito pouco a Björk. Spielberg também é insignificante perto do portentoso gigante asiático.
Coutinho lembrou que a história da maldade humana está bem representada na história dos Jogos Olímpicos. Em outros tempos, eventos como os de Berlim, Munique ou Moscou não serviram para nada se não para esconder a natureza sinistra dos regimes políticos de seus países sede, lembrou o cronista.
Em seu site, Björk disse que gostaria de desejar a todos os indivíduos e nações boa sorte na sua batalha pela independência. O resto do mundo vai desejar sorte para os milhares de atletas durante as suas batalhas travadas nas arenas milionárias construídas em Pequim.
O sangue só vai ser derramado do lado de fora.

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2008

O hino de Marion

A francesa Marion Cotillard ganhou o Oscar de melhor atriz ontem. Ela foi premiada por seu papel em La Vie en Rose, que no original se chama La Môme. No Brasil, conhecemos o filme pelo título Piaf – Um Hino de Amor. Simples assim.
Quem acompanhou a entrega do Oscar pela Globo não conseguiu entender a que filme pertencia a bela francesa premiada. Também não identificou boa parte das obras a que se referiam os comentaristas convidados para a transmissão, José Wilker e Maria Beltrão. A dupla insistia em usar os títulos em inglês, a exemplo do que – naturalmente – acontecia no teatro em Los Angeles. No final das contas, o público aprendeu que No Country for Old Men é Onde os Fracos não têm Vez em inglês.
A emissora carioca só iniciou a transmissão 45 minutos depois do início da premiação. Para um evento com pouco mais de três horas de duração, isso significa que ela dispensou mais de 20% do seu tempo. Enquanto a festa não começava, Wilker e Beltrão mostravam, direto de um estúdio, flashes da premiação. Mas só nos intervalos do Big Brother Brasil. Primeiro o veto da Thatiana ao voto do líder Marcelo, depois Elizabeth ganhando o prêmio de melhor figurino. Todos para o confessionário e, logo em seguida, Ratatouille leva o Oscar de filme de animação. Tudo muito democrático.
Fiquei feliz quando soube que uma dessas intervenções coincidia com o anúncio do prêmio de melhor ator coadjuvante. Isso porque a vitória de Javier Bardem era dada como quase certa e eu torcia para ele. Não deu outra.
Foi uma pena eu não conseguir entender uma única palavra do discurso do ator espanhol, que dedicou o prêmio à mãe. Não porque nesse momento não houvesse alguém traduzindo o seu discurso em espanhol – realmente não havia -, mas porque a dupla de apresentadores globais não parou com os comentários dispensáveis um segundo sequer.
Ainda teve gente chamando a Jennifer Gardner de Hilary Swank. A Cameron Dias esqueceu o texto – eu sei, isso não é culpa da Globo. Onde os Fracos não têm Vez e os irmãos Coen foram justiçados. Muitos europeus ganharam. Foi bom de ver, no final das contas. Eu também não disse que o Big Brother ou a Globo me irritam, mas essa já é outra história.

A foto do Bardem vibrando con su madre eu peguei no blog bombado da Ana Maria Bahiana.

sábado, 23 de fevereiro de 2008

Um homem peculiar

Quase tudo o que poderia ser dito sobre o filme Onde os Fracos Não Têm Vez, dos irmãos Ethan e Joel Coen, de Fargo, já foi. Me resta muito pouco, é verdade, mas eu não poderia deixar de escrever sobre a obra, que eu só assisti hoje. Muito menos sobre a performance fantástica do ator espanhol Javier Bardem. Na pele de um vilão intenso e perturbador – um homem peculiar, como define um personagem -, ele deve levar o Oscar de Melhor Ator Coadjuvante amanhã. O filme ainda foi indicado em outras sete categorias.
Com uma ausência completa de trilha sonora, o que só eleva a tensão a níveis astronômicos, o filme conta uma história sombria e ansiosa sobre a natureza humana, quase sempre digna de pena. Desde Irreversível, de 2002, eu não via um exercício tão profundo sobre a gratuidade do homem. E isso, ao menos para mim, não é pouca coisa. Assim como a produção francesa, o filme dos irmãos Coen causa uma estranha sensação de incômodo, do início ao fim. Por motivos diferentes, é verdade, mas igualmente aterrorizantes.
Impecável em todos os aspectos, o filme ainda conta com bons momentos onde os fatos são mais sugeridos que narrados, como a cena em que Bardem confere as solas de suas botas para ver se estão sujas de sangue, respondendo com isso se fez ou não mais uma vítima. Sem falar no final abrupto, que chegou a irritar algumas platéias, mas que é só mais uma boa surpresa do filme, que termina de repente, como as melhores canções dos Strokes.
Apesar do belo título em português, não dá para deixar de lamentar a perda de sentido provocada pela tradução do original inglês, No Country for Old Men.

A lágrima de Amy

Ela mesma já confessou, em alguma entrevista, que sua música é o lugar em sua vida em que ela pode ser totalmente honesta. Isso a ponto de não querer cantar algumas canções porque são muito fortes.
Com shows cancelados sem aviso, internações em clínicas de reabilitação, crises de anorexia e uso de drogas em público, é quase natural que Amy Winehouse marque mais presença na mídia em função dos escândalos com os quais se envolve do que por sua arte. É uma pena.
Eu já não me lembro se a cantora inglesa me ganhou com versos como aquele sobre o amor ser um jogo de azar. Ou então com a fabulosa Tears Dry on Their Own, do seu segundo CD, Back to Black. Na letra da música, um jazz dançante, ela diz coisas sobre um cara que se vai e leva o dia embora, fazendo o sol se pôr. Ela diz que suas lágrimas vão secar por si só. Ela não está para brincadeira. Nem quando canta sobre os seus demônios, nem quando permite que eles ajam por si só.
Entre um escândalo e outro, Amy ganhou a mídia, há algumas semanas, por conta do Grammy, a mais importante premiação da música no mundo. Favorita em diversas categorias, ela teve seu visto negado para entrar nos Estados Unidos, onde deveria se apresentar na festa. Apesar disso, cantou em Londres, de onde seu show foi transmitido para o mundo inteiro. No auge dos seus problemas recheados de violência doméstica, drogas pesadas e álcool, a cantora deixou todos à espera de uma tragédia via satélite, mas a apresentação foi sóbria e emocionante. No saldo final da festa, faturou cinco dos prêmios da noite.
A reaparição majestosa fez muita gente apostar no início de uma recuperação da dependência química e das crises de depressão, mas o inferno de Amy parece não ter fim. Logo ela descobriu que seu marido teve uma overdose de heroína na prisão e podia morrer. Em um gesto de compaixão pelo estado de saúde dele, apareceu com uma lágrima tatuada no rosto. Pareceu o início de mais um choro compulsivo. Mais uma vez ela voltaria a viver o pesadelo que canta em suas músicas.
Dias depois, voltou às páginas dos jornais, desta vez por quebrar um quarto de hotel. Desde que surgiu na mídia, a cantora, hoje com 24 anos, quase não encontra tempo para respirar entre uma tragédia e outra.
O amor é mesmo um jogo de azar.

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2008

Morrer com música alegre

Era uma quarta-feira de inverno quando Vinícius ligou o aparelho de som e entrou no banheiro, onde duas grelhas queimavam. “É bom morrer com música alegre”, escreveu na carta que deixou para os pais. Aos 16 anos, ele foi asfixiado por monóxido de carbono em sua casa, em Porto Alegre. O garoto interrompido - e real - é o personagem principal de uma reportagem publicada pela revista Época em sua edição do dia 11/2. Uma das autoras do texto é a fantástica Eliane Brum, cujo nome é sempre sinônimo de histórias incríveis onde jornalismo e literatura se confundem.
O título da reportagem, que pode ser lida na íntegra no site da revista, é Suicídio.com. Sim, Vinícius se matou. E fez isso participando de uma aberração virtual que tem levado jovens de diferentes lugares do mundo a acabarem com a própria vida. Ele foi estimulado e auxiliado por pessoas anônimas na internet, que praticamente acompanharam os seus passos até o precipício mais fundo de sua vida. Para enganar os pais e ficar sozinho, disse que queria fazer um churrasco para os amigos, que estava interessado em uma “guria” e que preferia que eles saíssem de casa. Mas era tudo uma fantasia. "Essa medida fez com que o churrasco de hoje parecesse um grande progresso no que tange a minha condição psíquica, quando na verdade era justamente o contrário”, deixou escrito.
O texto da revista traz um perfil impecável do garoto que gostava de Radiohead e compunha músicas tristes, além de vir ilustrado com fotos e desenhos - o desse post foi tirado de lá - de sua autoria. "Sua questão não era morrer, mas fazer a dor parar", diz a reportagem.

domingo, 17 de fevereiro de 2008

Glückwünsche!

Esse não é um post com elogios ao cinema produzido no Brasil. Até porque eu não sou do tipo que cria qualquer expectativa quanto ao que se faz por aqui quando se trata da sétima arte. Em mais de cem anos de história, nossa produção cinematográfica nunca conseguiu atingir um patamar sólido de relevância internacional. Não que precisássemos disso como atestado de qualidade, mas o desdém de quem entende do assunto só colabora para comprovarmos, quase que invariavelmente, o quanto nossos filmes são inofensivos e ruins.
Ainda assim, foi bom demais saber que o matador Tropa de Elite vai voltar de Berlim com o Urso de Ouro de Melhor Filme no saco. José Padilha, o diretor do longa, já tinha acertado demais com seu filme de estréia, o documentário Ônibus 174, outra espécie rara do nosso cinema. Antes de Tropa, o último brasileiro a vencer em Berlim foi o fantástico Central do Brasil, em 1998.
Pensando bem, eu mesmo acabei de apontar três exceções em um pequeno espaço de tempo de 10 anos. E há ainda mais uns dois ou três espasmos de criatividade que não são totalmente ruins.
De repente eu é que sou pessimista demais.

O Garoto Vodu

Sempre lembrei do Johnny Depp como o cara estranho, a quem os outros chamavam de Edward, que tinha imensas tesouras no lugar das mãos. Isso até o dia em que ele participou de Be Here Now, o CD mais barulhento do Oasis, tocando Slide Guitar na música Fade In-Out. Depois disso ele se tornou um cara legal para mim. E muito do que ele tem de legal – incluindo o fato de ter estrelado o esquisito Edward Mãos de Tesoura – se deve a um cara mais legal ainda: o diretor Tim Burton.
Esse post é sobre ele, Burton, e não sobre Depp.
Eu o conheci tarde. E mais que admirar alguns de seus filmes em especial, virei um apreciador do seu estilo. Da marca que ele deixa em tudo o que faz. Autor de verdadeiras fábulas visuais, quase todas manchadas de preto e expressões sombrias, o menino que era trancado pelos pais dentro de casa, para ser protegido, se tornou um artista obscuro.
É difícil definir os limites para que algo se torne estranho. Seja qual forem eles, a obra de Burton é estranha. Mas é genial também. Hoje assisti Sweeney Todd – O Barbeiro Demoníaco da Rua Fleet. O post era sobre o filme, mas acabou sendo sobre nada. No fim, o que importa é que é mais uma obra fantástica para a sua filmografia.
Trata-se de um musical trágico onde Depp interpreta um barbeiro assassino. Entre outras proezas, ele rasga a garganta de seus clientes e os cede para que uma fabricante de tortas – interpretada por Helena Bonham Carter, mulher de Burton - use como recheio de seus quitutes. E o que poderia ser só um banho de sangue gratuito e aflito revela-se um primor técnico e divertido. Uma aberração à altura da estranheza de Burton. E isso nunca é pouca coisa.
Faltou eu dizer que a imagem acima é da Garota Vodu, criada pelo próprio diretor para o seu ótimo livro O Triste Fim do Pequeno Menino Ostra & Outras Histórias. É que ele também desenha e escreve versos para crianças. Crianças estranhas e macabras acostumadas a gostar de personagens como a garota cuja pele é um claro tecido todo costurado e refeito.
Aflição.

sábado, 16 de fevereiro de 2008

Como tornar um céu azul

Há alguns minutos eu terminei uma viagem para Elizabethtown. Uma viagem iniciada no dia 29/11/2005, quando uma amiga decidiu criar um blog para escrevermos a quatro mãos. Essa amiga, que no blog assinava os textos como Claire, o batizou de I Can Turn a Gray Sky Blue, em referência ao toque do celular do Drew, personagem principal do filme Tudo Acontece em Elizabethtown, vivido por Orlando Bloom.
Penso que pouca gente gostou do filme, talvez porque pouca gente tenha conseguido entender. Mas de alguma maneira ele mexeu muito com a gente – comigo e com a Claire, que no cinema era interpretada pela Kirsten Dunst. E foi por isso que depois de assiti-lo, ela, minha amiga, decidiu criar o blog. Para que também fizéssemos uma viagem para Elizabethtown.
Mas a viagem acabou e eu decidi que era hora de criar um blog só para mim. O nome não é inédito, há algum tempo eu batizei um outro assim. Ele acabou, sumiu da rede. Foi mais um daqueles projetos que perdemos pelo caminho. A expressão é a tradução livre de uma das músicas que mais gosto do Oasis: Magic Pie.
De alguma maneira eu acredito que os dois aí da foto estão tristes com a despedida. Mas há novos caminhos para se desbravar.