sábado, 23 de fevereiro de 2008

Um homem peculiar

Quase tudo o que poderia ser dito sobre o filme Onde os Fracos Não Têm Vez, dos irmãos Ethan e Joel Coen, de Fargo, já foi. Me resta muito pouco, é verdade, mas eu não poderia deixar de escrever sobre a obra, que eu só assisti hoje. Muito menos sobre a performance fantástica do ator espanhol Javier Bardem. Na pele de um vilão intenso e perturbador – um homem peculiar, como define um personagem -, ele deve levar o Oscar de Melhor Ator Coadjuvante amanhã. O filme ainda foi indicado em outras sete categorias.
Com uma ausência completa de trilha sonora, o que só eleva a tensão a níveis astronômicos, o filme conta uma história sombria e ansiosa sobre a natureza humana, quase sempre digna de pena. Desde Irreversível, de 2002, eu não via um exercício tão profundo sobre a gratuidade do homem. E isso, ao menos para mim, não é pouca coisa. Assim como a produção francesa, o filme dos irmãos Coen causa uma estranha sensação de incômodo, do início ao fim. Por motivos diferentes, é verdade, mas igualmente aterrorizantes.
Impecável em todos os aspectos, o filme ainda conta com bons momentos onde os fatos são mais sugeridos que narrados, como a cena em que Bardem confere as solas de suas botas para ver se estão sujas de sangue, respondendo com isso se fez ou não mais uma vítima. Sem falar no final abrupto, que chegou a irritar algumas platéias, mas que é só mais uma boa surpresa do filme, que termina de repente, como as melhores canções dos Strokes.
Apesar do belo título em português, não dá para deixar de lamentar a perda de sentido provocada pela tradução do original inglês, No Country for Old Men.

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