terça-feira, 31 de março de 2009

Diogo rocks

O Diogo Mainardi foi ao show do Radiohead no Rio. Disse que foi arrastado, mas foi. Ele contou que um amigo seu é amigo de um guitarrista da banda, que arrumou um lugar para ele no “curralzinho da mesa de som”. Também contou que no dia seguinte, no bar do hotel, o baterista do grupo ensinou seu filho menor a tocar bumbo. Sobre o show, o Mainardi disse que o Radiohead o aborreceu com aquelas bandeiras tibetanas penduradas nos pianos. “Durante o espetáculo (...) pensei apenas que, entre eles e uma cadeira, escolho a cadeira”, disse. O melhor de tudo é que o assunto da sua coluna não foi a apresentação do Radiohead, mas o show de abertura. “Durante o espetáculo do Kraftwerk, pensei sobre o fracasso de minha geração. Sobre o futuro esclerosado que representamos”, explicou Mainardi. Entre o Radiohead e uma cadeira, eu ainda escolho o Radiohead. Mas por todo o resto é que o Mainardi é meu ídolo.

quarta-feira, 25 de março de 2009

O expresso da angústia

Seria estranho escrever menos sobre o show do Radiohead do que escrevi sobre os shows do Kraftwerk e do Los Hermanos. Mas a verdade é que não dá para dizer nada sem parecer piegas. Não sobre um show do Radiohead.
Talvez, para fugir disso, eu devesse falar sobre a tragédia que foi a organização do festival. Sobre a dificuldade de se chegar na Chácara do Jockey. Sobre a minúscula ladeira na qual 30 mil pessoas se espremeram para deixar o lugar, no final da apresentação. Sobre a impossibilidade de se encontrar um taxi disposto a te levar embora. Sobre o cheiro de excrementos de cavalo. Sobre os diversos "brejos" formados pelos mesmos excrementos no gramado do show e, por fim, sobre copos de água vendidos a cinco reais.
Mas a verdade é que, no palco, em pouco mais de 130 minutos, o Radiohead chegou à perfeição. E a todo momento, no show, eu me lembrava de uma coluna do Álvaro Pereira Junior onde ele falava sobre “como é um show do Radiohead”. De como ele dizia que os discos "difíceis" da banda, no palco, passavam a fazer sentido. “Não representavam a ruptura que, em um primeiro momento, se imaginava (ou que pelo menos eu imaginei)”, escreveu ele. No último domingo, era exatamente disso que eu me lembrava. De como as músicas, de diferentes fases e álbuns da banda, de uma hora para outra se pareciam absolutamente coerentes entre si. A diferença é que, ao falar de um show dessa mesma turnê, em Toronto, no ano passado, ele dizia que “a banda estava gelada. Perfeita e sem vibração.” E ia além: “(...) tenha em mente: o show, que dura duas horas, não é arrebatador. É, isso sim, milimetricamente profissional.”
Sobre o show não ser arrebatador, eu não consigo discorrer – talvez por ser meu primeiro show do Radiohead (e até por culpa da minha pouca experiência com apresentações desse “porte”) eu fui absoluta e completamente arrebatado. Abduzido, até. Esse tipo de análise mais “distante” é coisa para gente como o Álvaro; coisa de gênio. Mas sobre uma coisa eu posso, certamente, discordar dele: dessa vez, a banda estava perfeita e, completamente, vibrante. Vibrante e alegre a ponto de se fazer estranhar por aqueles que (como eu) esperavam dar de cara com os cinco caras mais tristes e enigmáticos da música pop.

Assim, depois de alguns dias imaginando uma forma para descrever essa experiência, decidi que o melhor é desistir. Em seu lugar, vou tentar me prender a fatos que me marcaram na primeira passagem do “expresso da angústia” – expressão que roubei do portal Estadão - pelo Brasil. Eu poderia listar dezenas deles, centenas até; mas vou ficar em apenas oito:

¬ Foi uma surpresa ver, na primeira página do site Ego, o Thom Yorke pagando de garoto de Ipanema e levando suas pelancas para curtir a praia no Rio de Janeiro, no primeiro dia da banda no Brasil. Faço minhas as palavras da Ana Bean: “Eu nunca imaginei que o Thom Yorke tivesse uma bermuda. Muito menos que ele fosse à praia. Que ele pegasse jacaré então...”

¬ No dia seguinte ao show do Rio de Janeiro, Bruno Medina, tecladista do Los Hermanos, escreveu em seu blog que “foi um pouco sui generis testemunhar Thom Yorke requebrando as cadeiras enquanto tocávamos Morena na passagem de som”. Hã?

¬ Entre um ápice e outro do show em São Paulo, eram tensos os silêncios que hipnotizavam a plateia durante alguns momentos. Como descreveu bem a Ana Bean (de novo ela!) na Popload: “quando Thom Yorke ensaiou a primeira frase de Exit Music (For a Film), ninguém se mexeu ou resolveu cantar junto. Não tem como não se arrepiar com 30 mil pessoas… em silêncio.”

¬ Dava até para imaginar que alguma coisa estava errada quando algumas frases em português “invadiam” o show. Mas, em entrevista - a única dada em terras brasileiras - ao Edgard, do Multishow, o Thom Yorke explica que esse é um “hábito” da banda.

¬ A última música que eu imaginei ouvir ao vivo foi You And Whose Army, minha favorita de Amnesiac e uma das minhas preferidas da banda. Descobri, no set list divulgado pelo Multishow, que ela entrou na última hora. Sorte minha. O Thom Yorke tocando piano com raiva e brincando de aproximar o olho da câmera está entre os meus melhores momentos do show.

¬ O que foi o povo continuar cantando “come on rain down on me” depois que Paranoid Android terminou? E a banda lá, sem entender nada, com um olhando para a cara do outro e sorrindo como quem diz: “whatafuck?!”

¬ E teve Fake Plastic Trees. E nessas horas a gente parece bobo e jura que eles cantaram a música para nós – para mim, no caso. Uma pequena história: ouvi o nome do Radiohead pela primeira vez na coluna do Álvaro (sempre ele!). Mas só quando ele citou que eles estavam tocando até em comercial na tv foi que eu pesquisei e descobri que se tratava da minha propaganda favorita de todos os tempos: a do Carlinhos no carrossel. Foi assim, arrebatador. Um caminho sem volta. E agora aquela música ali, domingo, fazendo a minha espinha gelar.

¬ Por fim, tem aquelas coisas que o palco fez. Quando a gente vê notícias de crianças japonesas tendo ataques e morrendo na frente da tv, hipnotizadas pelos efeitos visuais de alguns desenhos animados, deve ser assim que acontece. Mas ali, no show do Radiohead, foi como uma moldura para o som. Para ficar em apenas um momento: o que foram os efeitos de luz em Creep? Como se já não bastassem os versos daquele refrão, os “golpes” de luz branca com listras coloridas eram de derrubar qualquer um. Fantástico, para dizer o mínimo.

Tem muita coisa, ainda; mas eu juro que teria que ficar aqui para sempre.

(A primeira foto é do Daigo Oliva - G1 - e a segunda do Flavio Florido - Uol)

Conversa de botas batidas

¬ Quando comprei o ingresso para ver o Radiohead no Just a Fest, nem sonhava com a possibilidade do Los Hermanos se reunir novamente para tocar no festival. E nem mesmo às vésperas do show eu me animei tanto com a apresentação dos caras. E tinha até uma certa opinião sobre esse oportuno “retorno” da banda.
¬ Mas a verdade é que deu até vontade de chorar ouvindo, da fila formada no lado de fora da Chácara do Jockey, eles tocarem Cara Estranho lá dentro. E deu muita raiva da organização do festival, pela escolha de um lugar tão longe de tudo. Deu raiva do Governo do Estado de São Paulo, responsável pelas obras que interditam parte das ruas de acesso ao lugar, tornando os congestionamentos gigantes. Raiva do trânsito de São Paulo, que nunca permite que você chegue na hora programada. Raiva de não ter saído mais cedo de casa. Quando finalmente me vi diante do palco, faltavam apenas cinco músicas para o final do show. E a vontade de que o tempo pudesse voltar era imensa. E a tristeza por não saber quando o grupo se reunirá novamente também.
¬ Do pouco que vi da apresentação, algo me pareceu estranho. Li alguma crítica dizendo que foi um show burocrático. Talvez seja essa a palavra. Mas vai ver que eu estava longe demais do palco para perceber qualquer coisa. Só sei que não pareceu muito com o que vi e vivi em outras apresentações da banda. Mas também sei que foi bonito e saudoso. Assim como foi bonito ver no blog do Bruno Medina ele dizer que “valeu a oportunidade de convivência nestas três semanas, de relembrar boas histórias, de tocarmos juntos novamente músicas que significam tanto para tanta gente, e de reviver a maravilhosa atmosfera que envolve qualquer show do Los Hermanos.” E que saudade que me dá dessa maravilhosa atmosfera. E que raiva que me dá por ter perdido uma oportunidade dessas.
(Na foto, de Flavio Florido - Uol -, os hermanos Rodrigo Amarante e Marcelo Camelo)

Sobre os reis do pi pi pi

Três coisas antes...
¬ O nome do Kraftwerk sempre me faz lembrar, imediatamente, de notícias sobre a clássica capa da Spin em que eles apareceram diante da indagação: “Mais influentes que os Beatles?”

¬ O show que a banda fez no Free Jazz de 1998, em São Paulo, está no Top 5 de shows da vida do Lúcio Ribeiro. Ele – e não só ele – disse que os tios da eletrônica “assombraram” o Jockey Club.

¬ É indiscutível que eles praticamente iniciaram a música eletrônica como a conhecemos hoje. Em um texto de 2004, na Folha, por ocasião da segunda passagem da banda pelo Brasil, o Thiago Ney disse que é “humanamente impossível dissociar de qualquer coisa produzida eletronicamente nos últimos 30 anos a influência desses alemães, que injetaram na música o conceito ‘homem-máquina’”.

...e três depois.

¬ A imagem que eu sempre tive de uma apresentação do Kraftwerk estava associada a quatro figuras apáticas manuseando laptops no palco. No último domingo, na Chácara do Jockey, em São Paulo, tudo se confirmou. Nada me faz desistir da ideia de que eles simplesmente passaram 80 minutos navegando pela internet – quiçá brincando no MSN e no Orkut – enquanto o público travava uma luta insana contra o tédio para conseguir dançar e se animar com a ideia de que estava diante da “revolução”.

¬ Em algum momento do show, eu fui encontrar um amigo na “praça de alimentação” do lugar. Quando voltamos para a frente do palco, ele me perguntou onde estavam “os caras”. Eu expliquei que aquelas quatro sombras diante do telão, no centro do palco, eram eles. Ele jurou que pensou que fossem robôs. E talvez ele não estivesse tão enganado assim.

¬ Até que me provem o contrário, We Are The Robots é o que se pode chamar de ápice em uma apresentação do grupo. O número é o mesmo há séculos: eles saem do palco e são substituídos por robôs. O engraçado é que a música continua tocando do mesmo jeito, me deixando seriamente desconfiado de que eles realmente não fazem absolutamente nada diante daqueles laptops.

(Na foto, de Flavio Florido - Uol -, o Kraftwerk “tocando” em São Paulo, no Just a Fest)

quarta-feira, 18 de março de 2009

Um cara de modelo

Na capa da Vip deste mês, a da Sabrina Sato, tem uma chamada para um editorial de moda com o Ricardo Mansur com “5 looks pra ter o estilo pegador” no trabalho. Fácil. Pelo que eu entendi, depois de conferir as fotos, o segredo é mesclar costumes Ermenegildo Zegna e Armani com relógios Mido. Simples assim.

No texto, diz que o Mansur se diferencia do empresário tradicional, “talvez pelo berço de ouro”. Eu acho que ele se diferencia de qualquer mortal - e não apenas do empresário tradicional – por já ter namorado mulheres como Gisele Bündchen, Isabeli Fontana, Letícia Birkheuer e Luana Piovani.

Mas nem é isso o que mais me intriga. Se você já viu o cara em alguma revista ou programa na televisão, percebeu que, além do berço de ouro, ele, no dia a dia, só precisa contar com uma série interminável de camisetas pólo da Itaipava para pagar de pegador.
Além de empresário, o Mansur também é jogador de pólo. Apesar de eu não ter notícia sobre o que ele faz nessa sua última profissão, descobri na Vip que ele “seria considerado herói nacional se fôssemos nós a Argentina”. Sorte a nossa não sermos a Argenina, eu acho.

*Na foto, de Ângelo Pastorello, Mansur e um look de R$ 3 mil para dar pinta de pegador no trabalho.

Por que eu odeio "filmes de arte"

Cinemas que exibem filmes de arte são ambientes peculiares. Geralmente eles têm nomes de banco e geralmente são chamados de cinemas alternativos, mas são sempre uma alternativa mais cara para quem quer assistir a um filme chato em uma tela pequena.
A exemplo do que acontece com os shows da Madonna e os eventos de moda e os bazares do Alexandre Herchcovitch, há muitos gays em cinemas de arte. De todos os tipos e tamanhos. E também há muitos caras magros, desses com óculos de aros largos, camisetas pequenas e tênis velhos. Se bem que talvez eles sejam todos a mesma coisa.
Não tenho nada contra esse tipo de gente. Até porque, em uma cidade como São Paulo, conviver com eles é tão comum quanto conviver com terroristas muçulmanos, mágicos e equilibristas. Normal.
O que eu não suporto é quando essa gente se concentra em bandos na frente desses cinemas para fazer comentários subjetivos sobre filmes que todo mundo odeia, inclusive eles, mas não pode falar.
Isso porque, quem gosta de filmes de arte precisa – além de gostar - dizer que gosta. Não basta ter visto tudo do Godard ou conhecer a obra de Fellini como a palma da mão, é preciso comentar em blogs ou entrar em comunidades que afirmam isso no Orkut. Ou participar de palestras e mostras sobre o tema – e balançar a cabeça em sinal de afirmação quando alguém estiver falando sobre o tema. E suspirar, muito. Também é preciso ler a Bravo! e usar camisetas com cartazes de filmes, ainda que tudo o que você realmente conheça sobre o dito “cinema alternativo” seja O Fabuloso Destino de Amélie Poulain.
Há poucos dias, fui ao Espaço Unibanco de Cinema, em São Paulo, assistir ao turco Três Macacos. Ouvi dizer que seria uma boa oportunidade para conhecer o cinema daquele país. Mas a única coisa que o filme conseguiu foi me deixar curioso sobre como pronunciar corretamente o seu título original: Uç Maymun. De resto, são mais de cem minutos de vida desperdiçados.
Uma coisa que eu nunca consegui assimilar é o porquê dos atores de filmes de arte serem tão feios. Ô povo maltratado, meu Deus! E o que é pior: quanto mais feio, mais necessidade de aparecer pelado eles têm. Vai entender... Pensa bem: por um cachê de US$ 10 milhões, uma atriz consagrada de Hollywood sequer paga peitinho em um filme. Mas em um “aventura alternativa” cujo orçamento total não chega a metade disso, ela mostra até o útero.
Mas voltando a Três Macacos, eu diria que é muito silêncio para um filme só. Praticamente um regresso ao cinema mudo. Entre um diálogo e outro, dá até para ir ao banheiro ou buscar uma pipoca; isso se alguém comesse pipoca nos cinemas de arte. Lá, o que pega é um café (caro) antes da sessão e outro depois. Ou, quem sabe, uma garrafinha de água mineral para se hidratar durante o filme.
Mais que boas histórias ou roteiros amarrados, filmes exibidos em cinemas alternativos precisam ter subjetividade; muita subjetividade. Nem que para isso ele não se faça entender por ninguém além do seu próprio diretor. Mas ninguém precisa se constranger, basta apanhar sua garrafa de água e sair da sala de cinema pisando forte e elogiando a luz do filme. Também vale exaltar as cores da obra, a fotografia sublime, a melancolia nas expressões dos atores e a profundidade dos diálogos - ainda que esses se reduzam a meia dúzia de frases trocadas durante todo o filme.
*A imagem é de Três Macacos.