terça-feira, 22 de novembro de 2016

Um tour pela história do Oasis com Craig Gill


No início de 2012 eu estava em Londres estudando inglês e decidi passar um final de semana em Manchester, cidade que eu sempre quis conhecer e de onde saíram metade das bandas que formaram o meu caráter –especialmente o Oasis.

Algum tempo antes, ainda no Brasil, eu tinha lido sobre a quantidade de “tours musicais” que havia por lá. Muito deles temáticos, passando pela história das bandas surgidas na cidade: Smiths, Joy Division/New Order, Stone Roses, Oasis. Um desses tours, em especial, me chamou a atenção: “ManchesterMusic Tours”. Quem guiava os grupos era Craig Gill, baterista da banda Inspiral Carpets, de quem o Noel Gallagher foi roadie antes de entrar para o Oasis.

De Londres, troquei alguns e-mails com Craig. Ele disse que não havia nenhum tour programado para aquele final de semana, mas que tinha o sábado livre. O preço era 90 libras, mas faria um desconto e me cobraria 60. “Don't tell anyone”, disse.

Segredo guardado, compromisso firmado, na sexta-feira após a aula embarquei em um trem na estação londrina Euston com destino a Manchester Piccadilly. No sábado às 10:30 da manhã ele me pegou na porta do hostel. O que se seguiu pelas horas seguintes ocuparia espaço demais para ser descrito aqui (e só interessaria a fãs mais fervorosos da sagrada escritura do Oasis).

Passei em sua companhia um dos dias mais felizes da minha vida. Ele me levou a dezenas de lugares relacionados à trajetória da minha banda favorita e à vida pessoal de seus integrantes. Me apresentou pessoas e contou boas histórias sobre a época em que excursionou com o Noel. “We played in Buenos Aires”, disse, tentando estabelecer algum tipo de relação com o cliente brasileiro.

Havia pouco tempo Craig tinha lançado o livro “TheManchester Musical History Tour”, uma espécie de guia turístico da cidade a partir de seu legado musical.


Na hora de me deixar de volta no hostel, pedi uma foto. Fazia um frio glacial. Descemos do carro e avistamos duas meninas vindo pela calçada. Pedi para uma delas bater uma foto nossa. Elas fizeram cara de surpresa, tentando entender o que havia para ser fotografado ali. Craig explicou, apontando para mim: "he is very famous in Brazil".


Só mais tarde reparei que ele tinha saído com os olhos fechados na foto. Prometi para mim mesmo que um dia voltaria a Manchester e faria de novo aquele “Oasis Tour” com ele. Passando pelos mesmos lugares e ouvindo as mesmas histórias. No final, pediria uma foto e me certificaria de que ele tivesse saído com os olhos abertos.

Soube hoje que o Craig Gill morreu, aos 44 anos.

Nunca vou me esquecer daquele 21 de janeiro de 2012. Foram as 60 libras mais bem gastas da minha vida.