segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Desconforto no Planeta Terra (o festival, não o planeta em si)


Nesses tempos em que a internet começa a mudar o mundo como o conhecemos, timing é tudo. Por isso me apresso pra trazer aqui minha análise definitiva sobre o Planeta Terra 2010, que aconteceu há apenas dois dias na maior cidade do país:

¬ O Holger, única banda brasileira que realmente importa no momento, muito provavelmente fez um grande show. Cheguei a tempo de ver a metade final da última música antes de parte da banda decidir descer para a galera durante uma cover do Pixies que encerrou a apresentação. Sensa.

¬ Depois ouvi um pouco do Of Montreal (a dois quilômetros de distância) enquanto chegava a tempo de esperar pelo início do show do Mika. Eu só conhecia uma música dele (a do “Kick-Ass”), mas confesso que fiquei bastante tentado a gostar desse artista depois do que vi. É tudo muito colorido e performaticamente desnecessário, mas o cara é realmente bom de palco. Um showman, eu diria. E diria mais: ele vai longe.

¬ Já o Phoenix, cuja minha canção favorita (por falta de opção) é “Lisztomania”, fez uma apresentação tão empolgante quanto um deslizamento de terra. Cheguei depois da primeira música (que foi justamente “Lisztomania”) e só não maldigo tal banda porque descobri que a Cleo Pires os aprecia muito (o que muda todo o cenário como o conhecemos). Mas confesso ter me irritado bastante com a decisão do vocalista de permanecer durante um terço do show deitado no chão do palco. Isso pra não falar da ausência do Daft Punk, que prometeu uma participação especial e não cumpriu (como se fosse muito difícil colocar dois caras com capacetes de motoqueiro tocando CDs da série “The Best of Sirena” ali).

¬ Enfrentei o mais penoso corredor polonês da minha vida pra conseguir chegar no Hot Chip (que ficava num palco quase que do outro lado da marginal). Ouvi um terço de uma única música (e saí antes de tirar o CD deles da lista dos meus favoritos deste notável ano).

¬ Saindo da montanha-russa eu ouvi o Pavement tocar “Spit on a Stranger”, a grande música da minha vida. De longe, pude concluir que o Stephen Malkmus não estava muito animado da vida. Voltei ao outro palco, aquele localizado do outro lado da marginal, pra tentar comprar uma cerveja em menos de 40 minutos. Foi quando eu vi de relance o Empire of the Sun, uma banda que costuma se apresentar usando os figurinos da saudosa série “Jiraiya, o Incrível Ninja”.


¬ De todos os shows, o do Smashing Pumpkins era o que eu mais queria ver. Por isso garanti meu lugar na plateia pra poder prestigiá-lo. Foi o mais lotado e o mais pesado de todos (os que eu vi). Mas a verdade é que estava tudo muito sem propósito e fora de contexto para o momento. Principalmente por conta daqueles solos de guitarra de 27 minutos que o Billy Corgan decidiu fazer pra provar que ainda sabe tocar tal instrumento. Decidi me retirar imediatamente do recinto.

¬ Acabei indo embora antes do fim da apresentação. No final das contas, vou levar o trauma de só ter visto 0,8% dos shows do Planeta Terra para o túmulo (mas antes vou ver os 99,2% restantes em HD). O que me consola, em parte, é constatar que isso ocorreu por motivo de trabalho (e que no final das contas o meu salário justifica tudo). Também levarei para o túmulo a nova maior surpresa da minha vida: saber que o Billy Corgan fez um acordo com a organização do festival pra ajudar a esvaziar o Playcenter no final da festa. Sensa.

[A primeira foto é do helicóptero (Reinaldo Marques/Terra), a segunda é do Flavio Moraes (G1)]

terça-feira, 16 de novembro de 2010

Em apresentação histórica, Rihanna recebe maletas cheias da luz de "Lost"


Rihanna se consagrou como o grande nome deste século na música, no meu iPod, com "Good Girl Gone Bad". Já era o seu terceiro disco, mas eu só descobri isso há doze dias - então ele continua sendo o melhor disco de estreia de uma cantora pop em todos os tempos na minha opinião (tirando o da Katy Perry, eu acho).

Acontece que o segundo álbum da Rihanna, "Rated R", foi uma decepção. Sem pequenos milagres pop, sem refrões maravilhosos, sem hits dignos de nota e nem nada. Nessa mesma época, ainda, a cantora começou a embaragar por um caminho sem volta (muito provavelmente por conta de seus problemas com o Chris Brown). Pra completar, as antológicas apresentações na TV e em premiações (grande parte delas realizada com o notável auxílio de guarda-chuvas) foram para o ralo junto com o bom senso para cortes de cabelo.

Mas então há pouco ela veio com o primeiro single de seu terceiro disco, "Only Girl (In The World)". Não satisfeita em ser uma pequena obra-prima da música mundial deste milênio, a música tem o melhor refrão pop de que se tem notícia. Na sequência, Rihanna foi ao Saturday Night Live e mostrou “What’s My Name”. Depois, liberou a segunda parte da trilogia "Love the Way You Lie" e, apesar de não ter me conformado com o fato dela cortar boa parte da participação do Eminem na música, eu conclui em definitivo: Rihanna estava de volta ao modelo que a consagrou em "Good Girl Gone Bad". "Loud", seu novo CD (ainda não lançado no momento em que redigi tal teoria), seria o grande lançamento da década e afins.

O problema é que "Loud", que agora conhecemos, é chato e está a anos luz de "Good Girl Gone Bad". Pra completar, a Rihanna liberou como faixa bônus do álbum uma terceira e última versão de "Love the Way You Lie", dessa vez acústica e sem a participação do gênio Eminem. Eu fico esperando o momento dele aparecer gritando com aquela tranquilidade de quem é sugado pela enchente e nada.


A questão toda é que depois de quatro parágrafos só me resta voltar e me concentrar no tema deste texto: a apresentação da Rihanna no último Europe Music Awards da MTV (EMA, para os íntimos). Se ela já tinha abalado a república americana e adjacências com a participação que fez na apresentação do Eminem no VMA deste ano, agora ela atingiu a glória com uma versão histórica de "Only Girl (In The World)". A batida ficou mais pesada, ainda melhor. O número, sensacional. Ela toda serelepe, andando num jardim de flores de plástico. Tirando onda com os diamantes dados à Madonna em “Material Girl" e colocando caras pra oferecer malas cheias da luz de Lost só pra ela. Não dá pra pensar em nada melhor para o momento: é o maior número musical de que se tem notícia na história dos veículos midiáticos.  

ps. Devido à grande repercussão deste post, fui ameaçado de morte pela MTV e a incorporação do vídeo do YouTube com a referida apresentação teve que ser excluída daqui. Busque conhecimento e tente assistir ao mesmo (vai mudar sua vida, eu garanto).

quinta-feira, 16 de setembro de 2010

Brandon Flowers toca "Flamingo" na BBC Radio 1


"Quem mais tem pelo menos três ideias por canção e não economiza nenhuma?” A frase, do André Forastieri, é sobre o The Killers, mas serve para o primeiro disco solo do Brandon Flowers. “Flamingo” é cheio desses “desperdícios” geniais. Também é cheio de melodias memoráveis, referências a Vegas, sintetizadores, órgãos, coros e refrões para a gente cantar junto, berrando de alegria, ou para ouvir chorando na frente da lareira (no caso de você ter uma lareira em casa). Exatamente como nos discos do Killers.


Na semana passada, dias depois de "Flamingo" vazar na internet e antes de seu lançamento oficial, Flowers se apresentou nos estúdios Maida Vale, em Londres, para o programa do Zane Lowe, na BBC Radio 1. Ele tocou oito músicas do disco e também "Losing Touch" e “When You Were Young”, do Killers. “Jilted Lovers & Broken Hearts”, a melhor de “Flamingo”, ganhou uma versão para ser ouvida em looping eterno:



Não tinha como eu não gostar de “Flamingo”, que parece mais um disco do próprio Killers do que um projeto de seu vocalista. É que eu sempre gostei da banda mais do que é socialmente aceitável; e mais pelo Brandon Flowers do que por qualquer outra coisa. Não pelo jeito como ele se veste ou se comporta no palco ou por fazer coisas como chamar a Charlize Theron para estrelar seu primeiro clipe: eu gosto do Brandon Flowers porque ele sempre canta como se o mundo fosse acabar. E é muito bom que “Flamingo” pareça “apenas” um novo disco de sua banda, porque assim dá para fazer de conta que ela nunca entrou de férias.

¬ "Brandon Flowers Live at BBC Maida Vale Studios (Entire Set)" em MP3, para download

domingo, 5 de setembro de 2010

O alucinógeno Radiohead a partir do público


Pouca gente na história da música pode se gabar de ter causado uma revolução na indústria fonográfica. Em 2007, quando liberou o "In Rainbows" para download na internet, o Radiohead entrou para esse grupo. E é por isso que não causa espanto eles terem apoiado um projeto de fãs para criar um DVD de uma apresentação da banda em Praga, no ano passado. As imagens de “Live in Praha” foram captadas por 50 pessoas espalhadas em diversos lugares do público e depois sincronizadas com o áudio da mesa de som, cedido pela banda. O material está disponível para download (em diversos formatos e tamanhos diferentes) e também no YouTube. Tudo de graça e autorizado pela turma do Thom Yorke. O resultado é fabuloso. Pelo trailer aí embaixo já dá para se ter uma ideia do clima (“quase” tão alucinógeno quanto aqueles desenhos animados japoneses que provocam convulsões em crianças).



Apesar de ser “reconhecida” pela banda e ganhar em qualidade e edição, a ideia dos tchecos não é original. Há outros projetos do tipo realizados por fãs do Radiohead pelo mundo afora, inclusive no Brasil (onde a iniciativa ganhou o nome de “Rain Down”). No ano passado, o paulistano Andrews Guedis recriou os shows da banda em São Paulo e no Rio de Janeiro da mesma forma: sincronizando o áudio da mesa de som com vídeos feitos por fãs. A diferença é que no projeto brasileiro as imagens, gravadas por celulares e câmeras amadoras, foram retiradas do YouTube. No site do “Rain Down”, Andrews conta que já entrou em contato com os responsáveis pela iniciativa tcheca para pedir uma ajuda na divulgação do pioneiro brasileiro. E para aqueles que não fazem questão das imagens lisérgicas de “Live in Praha”, o paulistano mandou ver na diplomacia e disponibilizou em sua página o áudio do DVD gringo para ser baixado em MP3.

quinta-feira, 19 de agosto de 2010

Dexter no mundo dos sonhos

As coisas não estão nada fáceis na vida de Dexter Morgan. E para aumentar a ansiedade pela quinta temporada da série, que estreia dia 26 de setembro nos Estados Unidos, foi lançado um comercial parodiando "A Origem". “Agora meu mundo cuidadosamente construído está de pernas para o ar. E tudo está uma bagunça”, diz Dexter, enquanto objetos ao seu redor se movimentam imitando os efeitos do filme. A trilha do mestre Hans Zimmer também é a mesma. Só faltou entrar a voz da Piaf para “chutar” nosso serial killer favorito dali.

quinta-feira, 13 de maio de 2010

Entertainment Weekly faz ensaio com personagens mortos de Lost

A dois episódios do fim de Lost eu ando tão emotivo que já não dá para evitar de ficar postando coisas sobre a série aqui. E dessa vez há um bom motivo para isso.

É que a Entertainment Weekly fez um ensaio chique com atores que interpretaram personagens que já morreram ao longo das seis temporadas do programa. O site da revista Monet diz que um costume do século 19 chamado Post Mortem Photos serviu de inspiração para o trabalho. A revista cita a personagem de Nicole Kidman em Os Outros e conta que tirar fotos das pessoas mortas como se estivessem dormindo para compor álbuns era uma prática comum na época.

O resultado ficou tão legal que dá até para perdoar a ausência do Charlie e da Shannon nas fotos. E também do nosso chapa Paulo (NOT!).

William Mapother (Ethan Rom), Daniel Roebuck (Dr. Leslie Arzt) e Ian Somerhalder (Boone Carlyle)

Cynthia Watros (Elizabeth "Libby" Smith), Marsha Thomason (Naomi Dorrit) e Mira Furlan (Danielle Rousseau)

Harold Perrineau (Michael Dawson), Rebecca Mader (Charlotte Lewis) e Elizabeth Mitchell (Juliet Burke)

As imagens são do Michael Muller.

No site da Monet dá para lembrar quando e como cada um dos personagens acima morreu.

ps. Essa é a penúltima vez que eu falo sobre Lost aqui. É sério.

quinta-feira, 8 de abril de 2010

Sete razões para amar um episódio de Lost


Por que Happily Ever After (S06E11) foi o melhor momento da última temporada de Lost até agora:

1) Porque um episódio sobre o Desmond não tem como ser ruim. E agora o Widmore confirmou o que a gente já imaginava: a ilha ainda não terminou com ele.

2) Porque Happily Ever After representa o início de uma nova linha narrativa na série, onde as duas realidades irão se chocar.

3) Porque só o título do episódio, sozinho, já responde muita coisa sobre a realidade paralela. O que significa que a explosão planejada pelo Daniel Faraday deu certo e a Juliet não morreu em vão.

4) Porque a sequência do Desmond e do Charlie no carro, que acaba caindo no mar, é uma das melhores da série desde sempre. Primeiro porque deu para relembrar You All Everybody, a música do Drive Shaft que parece Rock n' Roll Star, do Oasis. Mas principalmente porque depois que o carro cai na água, o Desmond vê o Charlie apertando a palma da mão contra o vidro da janela recriando a clássica cena da mensagem "Not Penny's Boat", no final da 3ª temporada.

5) Porque a verdade é que pouca coisa andava acontecendo na última temporada de Lost até agora, contrariando todas as expectativas. E aí, quando surge um episódio como esse, cheio de revelações, reviravoltas e frases de efeito que a gente adora, não tem como não delirar. E tudo isso sem as cafonices de Ab Eterno, o melhor-episódio-de-Lost-na-temporada até então.

6) Porque deu para matar a saudade da boa e velha Claire, que ultimamente anda tão estranha e chata na ilha.

7) Porque Happily Ever After também é sobre o amor. Sobre o amor como a constante de alguns personagens. O amor do Charlie pela Claire, do Daniel pela Charlotte, mas principalmente do Desmond pela Penny. E quando o Desmond desmaia só de pegar na mão da Penny, que aceita o convite para tomar um café com ele, Lost até parece uma história de amor. De amor e física.

domingo, 28 de março de 2010

Bandas que perdemos pelo caminho

Eu me arrependo de um monte de coisas. Uma delas é de ter ido com tanto preconceito ao show do U2 no Morumbi, em 2006. É que eu só fui por causa do Franz Ferdinand, que abriu para eles. Do CD mais recente do U2 na época eu só conhecia as músicas que tocavam na rádio. O desinteresse era tanto que uma hora, no meio do show, eu saí da pista para ir ao banheiro. E aproveitei para passar no Bob's que tinha embaixo da arquibancada antes de voltar.

Não que eu tenha começado a gostar do U2 depois disso, mas hoje eu sinto vontade de ir a um show deles de novo, para poder pagar essa dívida. Para curtir um pouco dos efeitos visuais, que são sempre interessantes. E para mexer a boca mostrando que eu conheço algumas músicas (embora ainda ache a maior parte delas ruim).

E aí que eu escrevi tudo isso para dizer que acontece quase a mesma coisa com o Kings of Leon (guardadas as devidas proporções, já que eu prefiro muito mais eles ao U2).

É que em 2005 eu fui ao show do Strokes no Tim Festival, no Anhembi, e o Kings of Leon tocou antes deles. Acontece que eu gostava/gosto tanto do Strokes que tanto fazia se a banda antes deles fosse o Jota Quest, o U2 ou um grupo de caipiras americanos de Nashville. Eu não daria a mínima.

Agora eu vejo o DVD do show do Kings of Leon na O2 Arena, em Londres. A música é Sex on Fire, umas das minhas favoritas da banda. Diante deles, 18 mil pessoas esgoelam a letra sem parar. E é por isso que eu lembrei dessas coisas: para dizer que eu me arrependo muito do dia que não dei a mínima para aqueles caras mal vestidos, com cabelos e barbas horrorosos, tocando alguma música baixa lá no fundo, no ponto mais distante de mim naquele Anhembi. E para dizer que eu preciso reverter essa situação e ver um show deles ao vivo. Logo.

Tudo bem que “aquele” Kings of Leon que eu esnobei não é o mesmo King of Leon desse DVD. Isso todo mundo sabe. De lá para cá, eles lançaram o seu melhor disco: Only by the Night, de 2008. E melhoraram muito musicalmente. De lá para cá, até o Bob Dylan já se disse fã da banda.

A produção do show do DVD é caprichada. O palco é bonito e a empolgação do público só ajuda a somar pontos. Porém o que chama atenção mesmo é o tanto que o Kings of Leon evoluiu ao vivo. E isso é muito bom de se ver. Fora que eles também cortaram os cabelos e passaram a se vestir melhor nos últimos anos. E se isso não influencia nada no som, pelo menos ajuda a despachar para longe a antiga fama de bichos do mato do rock.

(A foto foi tirada da capa do DVD e mostra o público que lotou a O2 Arena para ver o Kings of Leon tocar.)

quarta-feira, 17 de março de 2010

O homem só de Tom Ford

Chamar filmes pelo nome original, não traduzido, na hora de se referir a eles, é coisa de hipster. Mas desta vez eu vou fazer isso para poder falar de A Single Man sem ter que usar o título infeliz que ele recebeu no Brasil: Direito de Amar.

O filme é o primeiro dirigido pelo estilista Tom Ford, que ficou milionário trabalhando para grifes de luxo como Yves Saint Laurent e Gucci - só nos 14 anos em que foi diretor criativo dessa última, ele teria acumulado cerca de US$ 200 milhões. Hoje Ford é dono de sua própria marca. Na Daslu, único ponto de venda de suas roupas em toda a América do Sul, um terno assinado por ele não custa menos de R$ 14 mil.

O estilista se transformou em um dos maiores ícones do mundo da moda das últimas décadas. E isso aconteceu por um milhão de motivos. O esmero de suas criações é um deles. Também soma pontos o conceito de suas campanhas para vender roupa, famosas por cenas de nudez e pelo forte apelo erótico. Junte tudo isso em um longa e o resultado é o melancólico A Single Man.

O filme é tão bonito que parece que cada frame foi retirado de um editorial da Vogue. Enquadramentos, cenários, figurinos, atores, trilha sonora. Tudo é tão impecável que chega a ser inverossímil e incômodo, como se estivéssemos diante de um comercial da grife de Ford.

Rodado em 21 dias e contando com US$ 7 milhões investidos pelo estilista do próprio bolso, A Single Man é uma adaptação do livro homônimo de Christopher Isherwood, publicado em 1964. O filme narra um dia na vida de um professor gay, que, após a perda do companheiro num acidente, planeja o próprio suicídio. Na história original, no entanto, o personagem não planeja se matar. A atuação do Colin Firth no papel principal é uma das coisas mais bonitas que eu já vi no cinema. E ainda tem a Julianne Moore e o ator que fez o menino de Um Grande Garoto, Nicholas Hoult.

Se esse fosse um texto para a Rolling Stone, pesaria no número de estrelas que eu daria ao filme o fato dele meio que ir por água abaixo na cena final, que é de muito mau gosto. Os 120 segundos que encerram A Single Man, antes dos créditos aparecerem na tela, são de estragar qualquer obra-prima. Uma conclusão moralista e piegas para uma história tão bonita e bem contada (e muito, muito triste). Um desperdício e tanto.

(A primeira imagem é de Colin Firth e o olhar mais triste de que se tem notícia. A segunda é uma versão alternativa do cartaz do filme, bem melhor que a original.)

sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

A arte de querer gostar de um filme

Primeiro eu gostei de Amor sem Escalas, do Jason Reitman. Por antecipação, mas gostei. Foi quando eu assisti ao seu trailer, meses atrás. Logo depois vieram as críticas positivas e não tinha como errar.

Embora eu não tivesse gostado nem um pouco de Juno e só um pouco (bem pouco mesmo) de Obrigado por Fumar, filmes anteriores do diretor, agora seria diferente. Um filme absolutamente triste (palavras de críticos de cinema), sobre um homem sendo testado por suas convicções de que relacionamentos são a coisa mais pesada da vida, tem tudo para me agradar. E ainda com uma história ambientada em hoteis, aeroportos e lojas de gravatas, lugares de que gosto tanto. Um filme que aborda a solidão por opção, crises existenciais e angústia e que, no final das contas, vai contra tudo o que prega o cinema americano ao assumir que, na vida, não há mesmo a possibilidade de consertar quase nada. E então veio o texto que o Marcel Plasse escreveu sobre ele no Scream & Yell e eu corri para o cinema no mesmo dia. Principalmente por conta da frase que encerrava a crítica: “é cinema para adolescentes entenderem errado e adultos fingirem não ter entendido”.

O que já deve ter dado para perceber, também por antecipação, é que diante de tanta expectativa só podia dar tudo errado - e o pior é que eu nem tenho um bom motivo para não ter gostado do filme. O George Clooney está perfeito (todos os atores estão), toca Angel in The Snow, do Elliott Smith (e um filme com Elliott Smith na trilha não pode ser ruim). Mas na primeira meia hora de exibição eu já estava olhando para o relógio sem parar, achando quase tudo muito chato.

As pessoas riam e eu ria também, claro. Não ia ficar ali parado, simplesmente olhando para a tela sem fazer nada. Mas a verdade é que eu não entendi muito bem se o objetivo de Amor sem Escalas é fazer rir ou chorar. Talvez eu devesse dar uma chance ao filme e voltar ao cinema, só para comprovar que aquela angústia na hora de ir embora veio mesmo por conta do extrato da minha conta que eu tirei no caixa eletrônico e não pela história contada por Reitman. O duro é que eu nem me sinto um adulto fingindo não ter entendido o filme. Se fosse isso, pelo menos, eu teria uma desculpa particular para não ter gostado dele. E não estaria aqui, me sentindo um alien.

quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

Mark Haddon e os comensais solitários

Eu termino de ler um bom livro e bate uma tristeza brava. Quanto melhor a leitura, maior a melancolia no final. Simples assim.

Ontem foi desse jeito com Uma Coisa de Nada, do Mark Haddon. Veio como um soco no estômago. Eu já tinha gostado do livro assim que li seu primeiro parágrafo, há dois anos, em uma livraria, mas só agora o peguei para valer.

Haddon é autor de O Estranho Caso do Cachorro Morto, por isso não dava para esperar pouca coisa desse Uma Coisa de Nada. Me lembrou As Correções, do Jonathan Franzen, um dos meus favoritos de sempre. No jeito de contar a história, na escolha de uma passagem na vida de uma família desajustada tão comum e ao mesmo tempo tão peculiar como tema de um romance. Em muitos aspectos.

Há um trecho nele de que gostei em especial:

“Sempre havia achado os comensais solitários tristes. Mas agora que ele era um comensal solitário, na verdade se sentia superior. Devido ao livro, principalmente. Aprendendo alguma coisa enquanto todo mundo estava desperdiçando tempo. Era como trabalhar à noite.”

Gostei dessa passagem porque talvez eu seja um desses comensais solitários na maior parte do tempo. Ou talvez porque eu goste muito de ler. Ou até porque eu ache que o ideal seria que passássemos menos tempo de nossas vidas dormindo – embora não faça absolutamente nada para mudar isso.

Mesmo que eu nunca mais volte a ler nada dele, Haddon já é um autor cujo jeito de escrever eu quero imitar um dia. Assim que eu finalmente levantar do sofá para cuidar do meu romance.

(A imagem no topo eu tirei do post Mesa Para Um, do Fernando Luna, publicado no site da revista Trip. Uma pérola sobre pobres comensais solitários que me fez querer sumir com tudo o que eu já escrevi na vida)

quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

O coração sofrido de John Mayer

Eu nunca ouvi uma música do John Mayer. Não que eu me recorde, pelo menos. Só me lembro dele tocando uma versão instrumental de Human Nature no funeral do Michael Jackson, ano passado (eu ia dizer que aquela foi a pior versão para uma música do Jacko desde sempre, mas acabo de lembrar da Cláudia Leitte cantando Thriller). Também sei que ele namorou a Jennifer Aniston. A minha, a sua, a nossa namorada perfeita. E que levou um pé na bunda. Agora Mayer é o cara sem camisa na capa da Rolling Stone americana. Cara triste, guitarra na mão, barba por fazer e topete tão firme quanto o de um boneco de cera. O músico diz à revista que nunca superou o fim do namoro com Aniston - o que mostra que, apesar de tudo, ainda lhe resta um pouco de sensatez. Justificando a cara de dó na capa, ele conta que sua vida sexual e sentimental se limita a ser constantemente rejeitado nos lugares onde vai. E que desfruta dos prazeres de uma vida entregue a sessões de maconha e videogame, embora sonhe em encontrar o par ideal. Como se já não bastasse tudo isso, Mayer desce ainda mais baixo e conta que está em busca do 'Joshua Tree' das vaginas. Seja lá o que isso signifique, a declaração prova que, além de ser péssimo com analogias, ele tem mau gosto para música. Muito. E que a Jennifer Aniston sabe mesmo o que faz. Eu pouco conheço o John Mayer, mas ele já me mata de vergonha.