sábado, 21 de fevereiro de 2009

Homens grandes com camisetas pequenas

Eu não conhecia Zane Lowe até há poucos minutos. Mas já não gosto dele.

Em um primeiro momento, tudo o que eu soube sobre Zane é que ele é um cara pretensioso, usa óculos pretos de aros largos e se esforça bastante para parecer amigo de infância do Franz Ferdinand. Agora, eu também sei que ele é VJ da MTV britânica e DJ da BBC Radio One. E nem assim ele me pareceu alguém melhor.

Descobri o apresentador graças ao Zane Meets Franz Ferdinand, que a MTV brasileira acabou de exibir. No programa, Zane conversa com Alex Kapranos e Nick McCarthy, da banda escocesa.

O Franz Ferdinand é uma boa banda. Muito boa, na verdade. Ao lado dos Strokes e do White Stripes, é uma das melhores surgidas nesta década. E é também com essas duas que eles figuram entre as bandas mais bem vestidas de todos os tempos.

A primeira música que ouvi do Franz Ferdinand foi Take Me Out. Em 2004, acho. Dois anos depois, vi um show deles no Brasil. Na verdade a banda veio abrir para o U2, no Morumbi, mas eu fui ao show mesmo foi para ver os caras, que haviam acabado de lançar seu segundo disco.

Foi uma frustração. Tocando meia dúzia de músicas no volume mínimo, eles não conseguiram fazer mais barulho que o bando de gente estranha que esperava pela atração principal da noite. Com a banda ocupando um espaço minúsculo na frente do palco, e com as luzes do estádio todas acesas, a única coisa de que me lembro bem do show é de um grupo de moleques bêbados com coroas de cartolina do Burger King pulando sem parar e cantando Do You Want To no meio da pista.

Alguns meses mais tarde, eles voltaram ao país como atração principal de um festival. Eu não fui. Antes de um show no Rio de Janeiro, dessa segunda vez, Kapranos, dizem, foi a uma pizzaria em Copacabana e pediu uma especial, fora do cardápio, com espinafre, azeitonas, salame e um ovo por cima.

O vocalista com o sotaque mais sensacional do novo rock é também gourmet e já assinou uma coluna sobre o assunto no The Guardian. Os textos inspiraram o livro Mordidas Sonoras (Conrad), onde ele narra aventuras gastronômicas enquanto dá duas voltas e meia ao redor do planeta excursionando com sua banda. Há um capítulo inteiro dedicado a uma experiência em um rodízio de carnes no Rio.

Voltando ao irritante Zane Lowe, meu novo adversário número um, com exceção dos vários trechos de clipes exibidos da banda, Zane Meets Franz Ferdinand teve um único momento bom: o Desafio do Queijo. Pelo que notei, o quadro, em que a banda convidada precisa falar o maior número possível de nomes de queijo em 20 segundos, é fixo. Não me lembro qual é o artista recordista, mas parece que ele apontou 19 nomes. O Franz Ferdinand falou 11.

Ainda não ouvi o novo álbum dos caras, Tonight: Franz Ferdinand. No programa do Zane, vi o clipe de Ulysses, o primeiro single do disco. A música é boa. Muito boa, na verdade. Um transe. O vídeo é lisérgico. E incrível. É ótima a parte em a banda aparece tocando e pulando sobre camas de um quarto de hotel. E também quando o baterista Paul Thomson bate com as suas baquetas na parede. E as cenas na lavanderia.

São legais, ainda, os ternos pretos com faixas brancas nas beiradas que os músicos vestem no clipe. E também os passos de dança que eles fazem enquanto cantam sobre o tal Ulysses, pedindo mais intensidade.

No restante do programa, entre um devaneio e outro, o figura do Zane só ficou disparando citações e lembrando histórias da banda da maneira mais arrogante possível. No melhor jeito Xuxa de entrevistar alguém, fez de tudo para afirmar sua intimidade com os caras e não poupou elogios constrangedores. Também falou sobre o que diversos artistas já disseram sobre o Franz Ferdinand. E lembrou de um rapper – acho – que definiu os indies como homens grandes com camisetas pequenas. Que eu me lembre, foi a única frase que pareceu divertir honestamente Kapranos e McCarthy.

Nenhum comentário: