Em 2000, aos vinte anos, a Gisele Bündchen já estava no topo do mundo. Naquele ano, em setembro, ela também estava na capa da Rolling Stone americana na excelente companhia do Mãozinha, da Família Addams.
Estrela de uma ação de guerrilha da Warner na revista, o adorável personagem (então mais margo, após uma crise de anorexia nervosa) foi escalado em uma tentativa insistente de emplacar as vendas em VHS de "O Retorno Da Família Addams" (a arrecadação na bilheteria, dois anos antes, não pagou nem o cachê da Daryl Hannah).
Mas o que importa mesmo estava dentro da Rolling Stone: o perfil da Gisele Bündchen assinado pelo mestre dos magos Erik Hedegaard. Simpático ao Brasil, em especial a São Paulo (que define carinhosamente como “enorme, barulhenta e fedida”), Hedegaard fez o melhor texto sobre a garota mais desejada do mundo desde "Frank Sinatra está Resfriado", do Gay Talese.
Já que em nenhum momento desses onze anos eu finalmente aprendi inglês, prestigio tal trabalho apenas agora, graças à sua tradução presente na boa seção “Arquivo RS”, que preenche espaços vagos na Rolling Stone brasileira com bastante excelência. Você também pode fazer o mesmo comprando a edição de janeiro da revista, que traz uma opção de capa com a bunda branca do John Lennon e o rosto da Yoko Ono (duas coisas que você não precisava testemunhar nesta vida).
“Do lado de fora do shopping, São Paulo é basicamente um esgoto”, dispara Hedegaard em momento de franca genialidade. No mais, ele insiste em relatar que Gisele, à época, fumava. Palavras alusivas a esse perigoso hábito, como “cigarro”, “fumar”, “fumaça” e “Parliament” (seu cigarro favorito em 2000), aparecem 781 vezes no texto.
A modelo ainda conta ao repórter que seus pais não sabiam que ela fumava. E pede que ele não diga a eles. A dúvida que fica é: se os pais dela não descobriram na época, em outras circunstâncias, nem aprenderam inglês nos últimos onze anos pra finalmente entender o que essa revista com nome de banda inglesa disse sobre a filha deles, agora eles só precisam gastar R$ 9,90 em alguma banca de Horizontina pra finalmente descobrir que foram enganados esse tempo todo pela prenda milionária. É sacanagem ou não é sacanagem?
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