Jonathan Franzen só pode ser um cara sorumbático. Que outro tipo de cara, perguntado sobre como uma pandemia afetaria sua carreira, responderia assim:
“Eu não me importo com minha carreira. Acho que a pior coisa que poderia acontecer seria alguém importunar minha ex-mulher. Não temos uma relação íntima e ela quer ser deixada em paz. Se alguém a procurar e começar a fazer perguntas sobre mim seria uma péssima consequência desse livro.”
O livro em questão é “Liberdade”, seu último romance. Para você ter uma ideia, as duas melhores linhas do livro dizem o seguinte:
“Todo ano, na época dos impostos, tem a impressão de que o ano anterior foi mais curto que o anterior a ele; os anos estão ficando tão parecidos entre si.”
Só um cara sorumbático como o Jonathan Franzen pode escrever uma coisa dessas sobre um personagem infeliz. E só alguém que se sente mais velho do que gostaria pode entender isso o bastante.
“Liberdade” não é “o livro do ano, e do século” como disse o The Guardian e como a capa da edição brasileira insiste em nos lembrar. “Liberdade” só é melhor que a obra-prima “As Correções”, o livro mais famoso do Franzen até então, porque tem vinte páginas a mais que ele. E é isso que as histórias do sorumbático têm de melhor: elas não terminam nunca. Franzen não é o tipo de escritor que agrada gente do tipo que não lê um livro grosso o suficiente para parar em pé sozinho na estante.
“Outro método divertido de atormentar Patty era esconder o cachorro da família, Elmo, e fingir que tinha sido submetido à eutanásia enquanto Patty estava no treino de basquete da tarde.”
A frase acima, sobre uma das personagens principais da história – e, de longe, a mais interessante – diz mais sobre uma pessoa do que o tipo de roupa de baixo que ela usa sob as calças.
Se eu pudesse escolher escrever como alguém eu queria escrever como Jonathan Franzen. A verdade é que esse é o tipo de cara que eu gostaria de ter sido se não fosse eu mesmo.
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