segunda-feira, 25 de fevereiro de 2008

O hino de Marion

A francesa Marion Cotillard ganhou o Oscar de melhor atriz ontem. Ela foi premiada por seu papel em La Vie en Rose, que no original se chama La Môme. No Brasil, conhecemos o filme pelo título Piaf – Um Hino de Amor. Simples assim.
Quem acompanhou a entrega do Oscar pela Globo não conseguiu entender a que filme pertencia a bela francesa premiada. Também não identificou boa parte das obras a que se referiam os comentaristas convidados para a transmissão, José Wilker e Maria Beltrão. A dupla insistia em usar os títulos em inglês, a exemplo do que – naturalmente – acontecia no teatro em Los Angeles. No final das contas, o público aprendeu que No Country for Old Men é Onde os Fracos não têm Vez em inglês.
A emissora carioca só iniciou a transmissão 45 minutos depois do início da premiação. Para um evento com pouco mais de três horas de duração, isso significa que ela dispensou mais de 20% do seu tempo. Enquanto a festa não começava, Wilker e Beltrão mostravam, direto de um estúdio, flashes da premiação. Mas só nos intervalos do Big Brother Brasil. Primeiro o veto da Thatiana ao voto do líder Marcelo, depois Elizabeth ganhando o prêmio de melhor figurino. Todos para o confessionário e, logo em seguida, Ratatouille leva o Oscar de filme de animação. Tudo muito democrático.
Fiquei feliz quando soube que uma dessas intervenções coincidia com o anúncio do prêmio de melhor ator coadjuvante. Isso porque a vitória de Javier Bardem era dada como quase certa e eu torcia para ele. Não deu outra.
Foi uma pena eu não conseguir entender uma única palavra do discurso do ator espanhol, que dedicou o prêmio à mãe. Não porque nesse momento não houvesse alguém traduzindo o seu discurso em espanhol – realmente não havia -, mas porque a dupla de apresentadores globais não parou com os comentários dispensáveis um segundo sequer.
Ainda teve gente chamando a Jennifer Gardner de Hilary Swank. A Cameron Dias esqueceu o texto – eu sei, isso não é culpa da Globo. Onde os Fracos não têm Vez e os irmãos Coen foram justiçados. Muitos europeus ganharam. Foi bom de ver, no final das contas. Eu também não disse que o Big Brother ou a Globo me irritam, mas essa já é outra história.

A foto do Bardem vibrando con su madre eu peguei no blog bombado da Ana Maria Bahiana.

sábado, 23 de fevereiro de 2008

Um homem peculiar

Quase tudo o que poderia ser dito sobre o filme Onde os Fracos Não Têm Vez, dos irmãos Ethan e Joel Coen, de Fargo, já foi. Me resta muito pouco, é verdade, mas eu não poderia deixar de escrever sobre a obra, que eu só assisti hoje. Muito menos sobre a performance fantástica do ator espanhol Javier Bardem. Na pele de um vilão intenso e perturbador – um homem peculiar, como define um personagem -, ele deve levar o Oscar de Melhor Ator Coadjuvante amanhã. O filme ainda foi indicado em outras sete categorias.
Com uma ausência completa de trilha sonora, o que só eleva a tensão a níveis astronômicos, o filme conta uma história sombria e ansiosa sobre a natureza humana, quase sempre digna de pena. Desde Irreversível, de 2002, eu não via um exercício tão profundo sobre a gratuidade do homem. E isso, ao menos para mim, não é pouca coisa. Assim como a produção francesa, o filme dos irmãos Coen causa uma estranha sensação de incômodo, do início ao fim. Por motivos diferentes, é verdade, mas igualmente aterrorizantes.
Impecável em todos os aspectos, o filme ainda conta com bons momentos onde os fatos são mais sugeridos que narrados, como a cena em que Bardem confere as solas de suas botas para ver se estão sujas de sangue, respondendo com isso se fez ou não mais uma vítima. Sem falar no final abrupto, que chegou a irritar algumas platéias, mas que é só mais uma boa surpresa do filme, que termina de repente, como as melhores canções dos Strokes.
Apesar do belo título em português, não dá para deixar de lamentar a perda de sentido provocada pela tradução do original inglês, No Country for Old Men.

A lágrima de Amy

Ela mesma já confessou, em alguma entrevista, que sua música é o lugar em sua vida em que ela pode ser totalmente honesta. Isso a ponto de não querer cantar algumas canções porque são muito fortes.
Com shows cancelados sem aviso, internações em clínicas de reabilitação, crises de anorexia e uso de drogas em público, é quase natural que Amy Winehouse marque mais presença na mídia em função dos escândalos com os quais se envolve do que por sua arte. É uma pena.
Eu já não me lembro se a cantora inglesa me ganhou com versos como aquele sobre o amor ser um jogo de azar. Ou então com a fabulosa Tears Dry on Their Own, do seu segundo CD, Back to Black. Na letra da música, um jazz dançante, ela diz coisas sobre um cara que se vai e leva o dia embora, fazendo o sol se pôr. Ela diz que suas lágrimas vão secar por si só. Ela não está para brincadeira. Nem quando canta sobre os seus demônios, nem quando permite que eles ajam por si só.
Entre um escândalo e outro, Amy ganhou a mídia, há algumas semanas, por conta do Grammy, a mais importante premiação da música no mundo. Favorita em diversas categorias, ela teve seu visto negado para entrar nos Estados Unidos, onde deveria se apresentar na festa. Apesar disso, cantou em Londres, de onde seu show foi transmitido para o mundo inteiro. No auge dos seus problemas recheados de violência doméstica, drogas pesadas e álcool, a cantora deixou todos à espera de uma tragédia via satélite, mas a apresentação foi sóbria e emocionante. No saldo final da festa, faturou cinco dos prêmios da noite.
A reaparição majestosa fez muita gente apostar no início de uma recuperação da dependência química e das crises de depressão, mas o inferno de Amy parece não ter fim. Logo ela descobriu que seu marido teve uma overdose de heroína na prisão e podia morrer. Em um gesto de compaixão pelo estado de saúde dele, apareceu com uma lágrima tatuada no rosto. Pareceu o início de mais um choro compulsivo. Mais uma vez ela voltaria a viver o pesadelo que canta em suas músicas.
Dias depois, voltou às páginas dos jornais, desta vez por quebrar um quarto de hotel. Desde que surgiu na mídia, a cantora, hoje com 24 anos, quase não encontra tempo para respirar entre uma tragédia e outra.
O amor é mesmo um jogo de azar.

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2008

Morrer com música alegre

Era uma quarta-feira de inverno quando Vinícius ligou o aparelho de som e entrou no banheiro, onde duas grelhas queimavam. “É bom morrer com música alegre”, escreveu na carta que deixou para os pais. Aos 16 anos, ele foi asfixiado por monóxido de carbono em sua casa, em Porto Alegre. O garoto interrompido - e real - é o personagem principal de uma reportagem publicada pela revista Época em sua edição do dia 11/2. Uma das autoras do texto é a fantástica Eliane Brum, cujo nome é sempre sinônimo de histórias incríveis onde jornalismo e literatura se confundem.
O título da reportagem, que pode ser lida na íntegra no site da revista, é Suicídio.com. Sim, Vinícius se matou. E fez isso participando de uma aberração virtual que tem levado jovens de diferentes lugares do mundo a acabarem com a própria vida. Ele foi estimulado e auxiliado por pessoas anônimas na internet, que praticamente acompanharam os seus passos até o precipício mais fundo de sua vida. Para enganar os pais e ficar sozinho, disse que queria fazer um churrasco para os amigos, que estava interessado em uma “guria” e que preferia que eles saíssem de casa. Mas era tudo uma fantasia. "Essa medida fez com que o churrasco de hoje parecesse um grande progresso no que tange a minha condição psíquica, quando na verdade era justamente o contrário”, deixou escrito.
O texto da revista traz um perfil impecável do garoto que gostava de Radiohead e compunha músicas tristes, além de vir ilustrado com fotos e desenhos - o desse post foi tirado de lá - de sua autoria. "Sua questão não era morrer, mas fazer a dor parar", diz a reportagem.

domingo, 17 de fevereiro de 2008

Glückwünsche!

Esse não é um post com elogios ao cinema produzido no Brasil. Até porque eu não sou do tipo que cria qualquer expectativa quanto ao que se faz por aqui quando se trata da sétima arte. Em mais de cem anos de história, nossa produção cinematográfica nunca conseguiu atingir um patamar sólido de relevância internacional. Não que precisássemos disso como atestado de qualidade, mas o desdém de quem entende do assunto só colabora para comprovarmos, quase que invariavelmente, o quanto nossos filmes são inofensivos e ruins.
Ainda assim, foi bom demais saber que o matador Tropa de Elite vai voltar de Berlim com o Urso de Ouro de Melhor Filme no saco. José Padilha, o diretor do longa, já tinha acertado demais com seu filme de estréia, o documentário Ônibus 174, outra espécie rara do nosso cinema. Antes de Tropa, o último brasileiro a vencer em Berlim foi o fantástico Central do Brasil, em 1998.
Pensando bem, eu mesmo acabei de apontar três exceções em um pequeno espaço de tempo de 10 anos. E há ainda mais uns dois ou três espasmos de criatividade que não são totalmente ruins.
De repente eu é que sou pessimista demais.

O Garoto Vodu

Sempre lembrei do Johnny Depp como o cara estranho, a quem os outros chamavam de Edward, que tinha imensas tesouras no lugar das mãos. Isso até o dia em que ele participou de Be Here Now, o CD mais barulhento do Oasis, tocando Slide Guitar na música Fade In-Out. Depois disso ele se tornou um cara legal para mim. E muito do que ele tem de legal – incluindo o fato de ter estrelado o esquisito Edward Mãos de Tesoura – se deve a um cara mais legal ainda: o diretor Tim Burton.
Esse post é sobre ele, Burton, e não sobre Depp.
Eu o conheci tarde. E mais que admirar alguns de seus filmes em especial, virei um apreciador do seu estilo. Da marca que ele deixa em tudo o que faz. Autor de verdadeiras fábulas visuais, quase todas manchadas de preto e expressões sombrias, o menino que era trancado pelos pais dentro de casa, para ser protegido, se tornou um artista obscuro.
É difícil definir os limites para que algo se torne estranho. Seja qual forem eles, a obra de Burton é estranha. Mas é genial também. Hoje assisti Sweeney Todd – O Barbeiro Demoníaco da Rua Fleet. O post era sobre o filme, mas acabou sendo sobre nada. No fim, o que importa é que é mais uma obra fantástica para a sua filmografia.
Trata-se de um musical trágico onde Depp interpreta um barbeiro assassino. Entre outras proezas, ele rasga a garganta de seus clientes e os cede para que uma fabricante de tortas – interpretada por Helena Bonham Carter, mulher de Burton - use como recheio de seus quitutes. E o que poderia ser só um banho de sangue gratuito e aflito revela-se um primor técnico e divertido. Uma aberração à altura da estranheza de Burton. E isso nunca é pouca coisa.
Faltou eu dizer que a imagem acima é da Garota Vodu, criada pelo próprio diretor para o seu ótimo livro O Triste Fim do Pequeno Menino Ostra & Outras Histórias. É que ele também desenha e escreve versos para crianças. Crianças estranhas e macabras acostumadas a gostar de personagens como a garota cuja pele é um claro tecido todo costurado e refeito.
Aflição.

sábado, 16 de fevereiro de 2008

Como tornar um céu azul

Há alguns minutos eu terminei uma viagem para Elizabethtown. Uma viagem iniciada no dia 29/11/2005, quando uma amiga decidiu criar um blog para escrevermos a quatro mãos. Essa amiga, que no blog assinava os textos como Claire, o batizou de I Can Turn a Gray Sky Blue, em referência ao toque do celular do Drew, personagem principal do filme Tudo Acontece em Elizabethtown, vivido por Orlando Bloom.
Penso que pouca gente gostou do filme, talvez porque pouca gente tenha conseguido entender. Mas de alguma maneira ele mexeu muito com a gente – comigo e com a Claire, que no cinema era interpretada pela Kirsten Dunst. E foi por isso que depois de assiti-lo, ela, minha amiga, decidiu criar o blog. Para que também fizéssemos uma viagem para Elizabethtown.
Mas a viagem acabou e eu decidi que era hora de criar um blog só para mim. O nome não é inédito, há algum tempo eu batizei um outro assim. Ele acabou, sumiu da rede. Foi mais um daqueles projetos que perdemos pelo caminho. A expressão é a tradução livre de uma das músicas que mais gosto do Oasis: Magic Pie.
De alguma maneira eu acredito que os dois aí da foto estão tristes com a despedida. Mas há novos caminhos para se desbravar.