sábado, 24 de janeiro de 2009

O pai do Julian

Fundador da agência de modelos mais famosa do mundo, a Elite, John Casablancas ficou conhecido por alçar ao estrelato modelos como Gisele Bündchen, Naomi Campbell, Cindy Crawford e Linda Evangelista, para ficar só em alguns nomes. Mas a verdade é que John também merece ser reconhecido pelo que fez de melhor: seu filho Julian Casablancas, vocalista e principal letrista dos fabulosos Strokes.
Terminei hoje de ler a autobiografia de Casablancas - o pai. O nome é Vida Modelo (Agir). É um livro ruim.
Já passa da página 133 quando ele finalmente começa a narrar sua incrível viagem – que já dura mais de 30 anos - pelo mundo da moda. “A mediocridade dos outros me fez aparecer como genial”, diz, num momento comum de imodéstia. Antes disso, o livro faz um apanhado interminável da relação do empresário com a sua família, passando pela história dos seus antepassados e (principalmente) pelas suas aventuras amorosas e financeiras mundo afora - uma história incrível, é verdade, mas que se arrasta por um texto arrogante e cansativo, que nem a colaboração da sempre boa Ana Maria Bahiana salvou.
Casablancas leva páginas e páginas para contar em detalhes, por exemplo, os oito anos que passou no Institut Le Rosey, o internato mais antigo da Suíça. Mas a única história interessante sobre o lugar ele conta em único parágrafo: Julian, seu filho, também estudou lá. E odiou. Mas, segundo seu pai, não foi uma perda de tempo completa: foi no Rosey que ele conheceu Albert Hammond Jr., com quem fundou os Strokes.
Entre detalhes sobre a sua inimizade com Gisele Bündchen e revelações sobre os animados bastidores do mundo da moda – com direito a episódios envolvendo Naomi Campbell, Kate Moss, baseados e afins -, John recorda o dia em que o seu filho lhe pediu 2 mil dólares emprestados para produzir a fita demo de sua banda. Tempos depois, voltou com Last Nite pronta. Além de se tornar fã dos Strokes, John conta que nos primeiros shows que eles fizeram em barzinhos undergrounds de Nova Iorque, ele, sua mulher brasileira Aline e os funcionários da Elite eram muitas vezes a única plateia presente. “Não consigo expressar por completo o orgulho que sinto cada vez que vou a um show e vejo aquele cara selvagem e talentoso cantando suas próprias músicas, divinamente, no palco. É o meu filho, e não tenho a menor ideia de onde ele tirou esse talento incrível”, escreve.
Vida Modelo também traz muitas, muitas fotos. Depois de ver algumas delas, pescadas dos álbuns de família, dá até para desconfiar da espontaneidade de Julian como o cara mais bem vestido do rock. Em uma delas, por exemplo, ele aparece abraçado à Juliet, sua mulher, vestindo o improvável conjunto camiseta do Flamengo, jaqueta do Metallica, correntinha no pescoço e cabelo careta. Está lá, no alto da página 398.

Uma última observação: Não sei se o problema é da idade - eu posso estar ficando cego! - ou se a direção de arte e design do livro errou feio: é muito difícil - literalmente - ler a obra. A diagramação do texto é ruim e as fontes - inclusive das legendas - são todas minúsculas e de pouca legibilidade.

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