domingo, 5 de abril de 2009

Um bebê errático e triste

Hoje faz exatos quinze anos que Kurt Cobain estourou os próprios miolos com uma arma. Eu gostaria de dizer que era fã do Nirvana e da mente perturbada de Cobain. Que assim como fizera com a pequena Frances, filha do cantor com a igualmente equilibrada Courtney Love, seu suicídio também me deixara órfão. Mas não é verdade. Em 1993, por exemplo, enquanto Cobain abaixava as calças e cuspia na câmera da Globo, no Hollywood Rock, eu estava mais interessado na turnê de O Canto da Cidade, da Daniela Mercury.

É com tristeza que eu digo que o meu fascínio pelo Nirvana e, mais especificamente, pela história de Cobain, só veio mais tarde, tempos depois de sua morte. Lembro de uma Showbizz, de 1996, em que ele aparecia na capa atrás da pergunta: “Valeu a pena Kurt?” A edição trazia, além de uma biografia instigante do músico, a reprodução de sua carta de suicídio.

De lá para cá, já reli o texto da carta algumas dezenas de vezes. E é sempre uma experiência avassaladora. Arrepiante, para dizer o mínimo. Fico incomodado quando ele se declara um bebê errático e triste. Ou quando diz que não tem mais paixão. Quando cita Neil Young para dizer que é melhor queimar do que se apagar aos poucos. Quando diz que a vida de Frances será tão mais feliz sem ele; e em todo o resto.

Gosto muito de diferentes fases e trabalhos do Nirvana, que conheci bastante depois do suicídio de Kurt. Mas há uma gravação da banda, no entanto, que considero especialmente arrebatadora. Trata-se de uma versão para Where Did You Sleep Last Night, do cantor e guitarrista Huddie Ledbetter, conhecido como Leadbelly, tocada na gravação do Unplugged MTV. Acho incômodo e fascinante o silêncio mortal que o público faz durante os seis minutos que dura a canção. Assim como é igualmente incômoda e fascinante a entrega de Kurt na música, que encerrou a noite.

Por motivos que ninguém nunca conseguirá entender, Kurt se matou menos de cinco meses depois da gravação do Unplugged. Tenho para mim que ele soube, naquele momento, que jamais conseguiria cantar nada melhor do que Where Did You Sleep Last Night. Não daquela maneira.

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