segunda-feira, 6 de abril de 2009

Medo do J. J. Abrams

O mundo é um laboratório. Pelo que entendi assistindo ao piloto de Fringe, é esse, basicamente, o argumeto do novo devaneio de J. J. Abrams, criador de Lost. Para dizer o mínimo, a série mistura referências científicas e teorias conspiratórias com o que mais se vê no trabalho do produtor: reviravoltas e tensão, muita tensão. Em entrevista à Veja, Abrams assumiu ter aprendido que “a melhor forma de uma trama de mistério prender o espectador era criar tantas reviravoltas e desdobramentos paralelos que ele não tivesse tempo de respirar". Sobre Fringe lidar com teorias conspiratórias, ele foi além: “as teorias conspiratórias dão ao espectador uma sensação de conforto. A possibilidade de que o mundo seja controlado por uma organização ou sistema é assustadora. Mas, ao mesmo tempo, fornece um sentido à vida: se isso existir, então há um objetivo maior por trás de tudo.”

Perguntado sobre o que está ocorrendo com muitos fãs reclamando que Lost se tornou mirabolante, ele respondeu que “esse pessoal não é nerd o suficiente”. Aliás, todos os produtores da série não cansam de repetir que nunca perderam o controle e que, ao fim da trama, todas as pontas se ligarão. Penso que a última cena do 11º episódio da quinta temporada da série, com o Locke dando boas vindas à terra dos vivos ao Ben, endossa bem o que o próprio Abrams falou sobre não dar tempo para o espectador respirar.

Além de ter sua sequência inicial filmada em um avião, Fringe compartilha com Lost da necessidade de mostrar o quanto grandes corporações desejam controlar o mundo. E de que somos todos cobaias de experimentos ininterruptos. E de que talvez as pessoas sejam um pouco mais sinistras e assustadoras do que imaginamos.

Pelo que li na Veja, a própria mulher do produtor já declarou que ele é um ser de outro planeta. É por essas e outras que eu tenho medo do J. J. Abrams. Muito medo.

domingo, 5 de abril de 2009

Um bebê errático e triste

Hoje faz exatos quinze anos que Kurt Cobain estourou os próprios miolos com uma arma. Eu gostaria de dizer que era fã do Nirvana e da mente perturbada de Cobain. Que assim como fizera com a pequena Frances, filha do cantor com a igualmente equilibrada Courtney Love, seu suicídio também me deixara órfão. Mas não é verdade. Em 1993, por exemplo, enquanto Cobain abaixava as calças e cuspia na câmera da Globo, no Hollywood Rock, eu estava mais interessado na turnê de O Canto da Cidade, da Daniela Mercury.

É com tristeza que eu digo que o meu fascínio pelo Nirvana e, mais especificamente, pela história de Cobain, só veio mais tarde, tempos depois de sua morte. Lembro de uma Showbizz, de 1996, em que ele aparecia na capa atrás da pergunta: “Valeu a pena Kurt?” A edição trazia, além de uma biografia instigante do músico, a reprodução de sua carta de suicídio.

De lá para cá, já reli o texto da carta algumas dezenas de vezes. E é sempre uma experiência avassaladora. Arrepiante, para dizer o mínimo. Fico incomodado quando ele se declara um bebê errático e triste. Ou quando diz que não tem mais paixão. Quando cita Neil Young para dizer que é melhor queimar do que se apagar aos poucos. Quando diz que a vida de Frances será tão mais feliz sem ele; e em todo o resto.

Gosto muito de diferentes fases e trabalhos do Nirvana, que conheci bastante depois do suicídio de Kurt. Mas há uma gravação da banda, no entanto, que considero especialmente arrebatadora. Trata-se de uma versão para Where Did You Sleep Last Night, do cantor e guitarrista Huddie Ledbetter, conhecido como Leadbelly, tocada na gravação do Unplugged MTV. Acho incômodo e fascinante o silêncio mortal que o público faz durante os seis minutos que dura a canção. Assim como é igualmente incômoda e fascinante a entrega de Kurt na música, que encerrou a noite.

Por motivos que ninguém nunca conseguirá entender, Kurt se matou menos de cinco meses depois da gravação do Unplugged. Tenho para mim que ele soube, naquele momento, que jamais conseguiria cantar nada melhor do que Where Did You Sleep Last Night. Não daquela maneira.

Paul & Ringo

Ontem, às vésperas do aniversário de 15 anos da morte de Kurt Cobain, a magia dos Beatles ganhou vida novamente. E olha que para isso nem foi preciso gastar duas balas e reunir os quatro integrantes da banda mais uma vez. A coisa toda durou apenas três minutos, mas deu para sentir o que o Nick Hornby chamaria de “sensação gostosa de sonho”.

Tudo começou quando Paul McCartney pediu uma ajudinha do amigo Ringo Starr para cantar com ele With a Little Help From My Friends, em Nova York. A parte chata é que uma decisão tão boa tenha partido de uma causa tão infeliz: o evento onde eles se apresentaram pretendia levantar dinheiro para ajudar que cerca de um milhão de crianças aprendam a técnica da meditação Transcendental, que os próprios Beatles praticaram no auge da fama. Fico pensando que eles poderiam ter arranjado um milhão de outros motivos para dividir o microfone, mas foram decidir fazê-lo justamente por isso.

Há pouco eu tornei a me lembrar do Ringo. Dessa vez, por conta de uma reportagem na Veja com a história do Pete Best, que foi baterista dos Beatles antes deles se transformarem em fenômeno mundial. Best foi demitido do grupo e Ringo entrou em seu lugar. Algum tempo depois, Best se trancou em casa, abriu o registro de gás e tentou se matar. Sua atitude mostra que ele não é um cara sensato: em seu lugar, qualquer pessoa do mundo teria tentado o suicídio de uma maneira irreversível. Atualmente, de acordo com Veja, Best dispõe de “um ótimo senso de humor”.

Voltando ao grande encontro de ontem, lembrei de quando eu ouvia With a Little Help From My Friends na abertura de Anos Incríveis, na versão do Joe Cocker. E de que o Ringo é pai do Zac Starkey, que já tocou bateria no Oasis. E pensei que o Ringo, o mais desajeitado dos Beatles, apesar de gostar de uma coisa tão chata quanto meditação e de se vestir como se fosse um integrante do Bee Gees, só pode ser um cara legal.




(Na foto, Kevin Arnold, Paul Pfeiffer e Winnie Cooper, de Anos Incríveis)

sexta-feira, 3 de abril de 2009

Eu queria ser Mark Ronson!

Chega de Radiohead, por ora. O assunto agora é a escolha do homem mais bem vestido da Inglaterra: o multi-instrumentista Mark Ronson.

Ronson produziu Back To Black, o segundo e melhor álbum da Amy Winehouse. Também deve ajudá-la a refazer seu novo disco, que foi rejeitado pela gravadora. Além de um Grammy como melhor produtor, Ronson tem na estante de casa um Brit Awards de melhor artista britânico masculino. Ele estreou como DJ em uma festa do Puff Daddy e tocou no casamento do Tom Cruise com a Katie Holmes. Cresceu, dizem, vendo David Bowie, Paul McCartney e Tommy Hillfiger na sala de casa. Em 2007, lançou Version, seu segundo álbum, com regravações de sucessos do indie e do pop com roupagem black. Para “reinventar” músicas de gente como Britney Spears, Smiths e Jam, o rapaz contou com a ajuda de gente como Lily Allen, Robbie Williams e Amy Winehouse. Ronson é boa pinta, milionário, talentoso, já pagou de modelo para a DKNY, é amigo de todo mundo que importa e o melhor de tudo: acaba de ser eleito o inglês mais bem vestido do ano pela GQ britânica. A lista sai na edição de maio da revista. Figuras como Guy Ritchie, Tom Ford e David Beckham ficaram para trás. Alex Turner, do Artic Monkeys, só aparece em 13º.

Para terminar, uma trégua na promessa de não falar mais de Radiohead: em Version, Ronson chamou Alex Greenwald, do Phantom Planet, para cantar na melhor cover de que se tem notícia para uma música do grupo de Thom Yorke: a grooveada versão de Just. Também não dá para imaginar figurino melhor para uma banda do que o usado no videoclipe.

(Foto do site Erika Palomino)