Eu me arrependo de um monte de coisas. Uma delas é de ter ido com tanto preconceito ao show do U2 no Morumbi, em 2006. É que eu só fui por causa do Franz Ferdinand, que abriu para eles. Do CD mais recente do U2 na época eu só conhecia as músicas que tocavam na rádio. O desinteresse era tanto que uma hora, no meio do show, eu saí da pista para ir ao banheiro. E aproveitei para passar no Bob's que tinha embaixo da arquibancada antes de voltar.
Não que eu tenha começado a gostar do U2 depois disso, mas hoje eu sinto vontade de ir a um show deles de novo, para poder pagar essa dívida. Para curtir um pouco dos efeitos visuais, que são sempre interessantes. E para mexer a boca mostrando que eu conheço algumas músicas (embora ainda ache a maior parte delas ruim).
E aí que eu escrevi tudo isso para dizer que acontece quase a mesma coisa com o Kings of Leon (guardadas as devidas proporções, já que eu prefiro muito mais eles ao U2).
É que em 2005 eu fui ao show do Strokes no Tim Festival, no Anhembi, e o Kings of Leon tocou antes deles. Acontece que eu gostava/gosto tanto do Strokes que tanto fazia se a banda antes deles fosse o Jota Quest, o U2 ou um grupo de caipiras americanos de Nashville. Eu não daria a mínima.
Agora eu vejo o DVD do show do Kings of Leon na O2 Arena, em Londres. A música é Sex on Fire, umas das minhas favoritas da banda. Diante deles, 18 mil pessoas esgoelam a letra sem parar. E é por isso que eu lembrei dessas coisas: para dizer que eu me arrependo muito do dia que não dei a mínima para aqueles caras mal vestidos, com cabelos e barbas horrorosos, tocando alguma música baixa lá no fundo, no ponto mais distante de mim naquele Anhembi. E para dizer que eu preciso reverter essa situação e ver um show deles ao vivo. Logo.
Tudo bem que “aquele” Kings of Leon que eu esnobei não é o mesmo King of Leon desse DVD. Isso todo mundo sabe. De lá para cá, eles lançaram o seu melhor disco: Only by the Night, de 2008. E melhoraram muito musicalmente. De lá para cá, até o Bob Dylan já se disse fã da banda.
A produção do show do DVD é caprichada. O palco é bonito e a empolgação do público só ajuda a somar pontos. Porém o que chama atenção mesmo é o tanto que o Kings of Leon evoluiu ao vivo. E isso é muito bom de se ver. Fora que eles também cortaram os cabelos e passaram a se vestir melhor nos últimos anos. E se isso não influencia nada no som, pelo menos ajuda a despachar para longe a antiga fama de bichos do mato do rock.
(A foto foi tirada da capa do DVD e mostra o público que lotou a O2 Arena para ver o Kings of Leon tocar.)
domingo, 28 de março de 2010
quarta-feira, 17 de março de 2010
O homem só de Tom Ford
Chamar filmes pelo nome original, não traduzido, na hora de se referir a eles, é coisa de hipster. Mas desta vez eu vou fazer isso para poder falar de A Single Man sem ter que usar o título infeliz que ele recebeu no Brasil: Direito de Amar.
O filme é o primeiro dirigido pelo estilista Tom Ford, que ficou milionário trabalhando para grifes de luxo como Yves Saint Laurent e Gucci - só nos 14 anos em que foi diretor criativo dessa última, ele teria acumulado cerca de US$ 200 milhões. Hoje Ford é dono de sua própria marca. Na Daslu, único ponto de venda de suas roupas em toda a América do Sul, um terno assinado por ele não custa menos de R$ 14 mil.
O estilista se transformou em um dos maiores ícones do mundo da moda das últimas décadas. E isso aconteceu por um milhão de motivos. O esmero de suas criações é um deles. Também soma pontos o conceito de suas campanhas para vender roupa, famosas por cenas de nudez e pelo forte apelo erótico. Junte tudo isso em um longa e o resultado é o melancólico A Single Man.
O filme é tão bonito que parece que cada frame foi retirado de um editorial da Vogue. Enquadramentos, cenários, figurinos, atores, trilha sonora. Tudo é tão impecável que chega a ser inverossímil e incômodo, como se estivéssemos diante de um comercial da grife de Ford.
Rodado em 21 dias e contando com US$ 7 milhões investidos pelo estilista do próprio bolso, A Single Man é uma adaptação do livro homônimo de Christopher Isherwood, publicado em 1964. O filme narra um dia na vida de um professor gay, que, após a perda do companheiro num acidente, planeja o próprio suicídio. Na história original, no entanto, o personagem não planeja se matar. A atuação do Colin Firth no papel principal é uma das coisas mais bonitas que eu já vi no cinema. E ainda tem a Julianne Moore e o ator que fez o menino de Um Grande Garoto, Nicholas Hoult.
Se esse fosse um texto para a Rolling Stone, pesaria no número de estrelas que eu daria ao filme o fato dele meio que ir por água abaixo na cena final, que é de muito mau gosto. Os 120 segundos que encerram A Single Man, antes dos créditos aparecerem na tela, são de estragar qualquer obra-prima. Uma conclusão moralista e piegas para uma história tão bonita e bem contada (e muito, muito triste). Um desperdício e tanto.
(A primeira imagem é de Colin Firth e o olhar mais triste de que se tem notícia. A segunda é uma versão alternativa do cartaz do filme, bem melhor que a original.)
O filme é o primeiro dirigido pelo estilista Tom Ford, que ficou milionário trabalhando para grifes de luxo como Yves Saint Laurent e Gucci - só nos 14 anos em que foi diretor criativo dessa última, ele teria acumulado cerca de US$ 200 milhões. Hoje Ford é dono de sua própria marca. Na Daslu, único ponto de venda de suas roupas em toda a América do Sul, um terno assinado por ele não custa menos de R$ 14 mil.
O estilista se transformou em um dos maiores ícones do mundo da moda das últimas décadas. E isso aconteceu por um milhão de motivos. O esmero de suas criações é um deles. Também soma pontos o conceito de suas campanhas para vender roupa, famosas por cenas de nudez e pelo forte apelo erótico. Junte tudo isso em um longa e o resultado é o melancólico A Single Man.
O filme é tão bonito que parece que cada frame foi retirado de um editorial da Vogue. Enquadramentos, cenários, figurinos, atores, trilha sonora. Tudo é tão impecável que chega a ser inverossímil e incômodo, como se estivéssemos diante de um comercial da grife de Ford.
Rodado em 21 dias e contando com US$ 7 milhões investidos pelo estilista do próprio bolso, A Single Man é uma adaptação do livro homônimo de Christopher Isherwood, publicado em 1964. O filme narra um dia na vida de um professor gay, que, após a perda do companheiro num acidente, planeja o próprio suicídio. Na história original, no entanto, o personagem não planeja se matar. A atuação do Colin Firth no papel principal é uma das coisas mais bonitas que eu já vi no cinema. E ainda tem a Julianne Moore e o ator que fez o menino de Um Grande Garoto, Nicholas Hoult.
Se esse fosse um texto para a Rolling Stone, pesaria no número de estrelas que eu daria ao filme o fato dele meio que ir por água abaixo na cena final, que é de muito mau gosto. Os 120 segundos que encerram A Single Man, antes dos créditos aparecerem na tela, são de estragar qualquer obra-prima. Uma conclusão moralista e piegas para uma história tão bonita e bem contada (e muito, muito triste). Um desperdício e tanto.
(A primeira imagem é de Colin Firth e o olhar mais triste de que se tem notícia. A segunda é uma versão alternativa do cartaz do filme, bem melhor que a original.)
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