sábado, 15 de agosto de 2009

A glória da tarde

Via de regra, um guia para observação de nuvens me pareceria, a princípio, tão interessante quanto um estudo sobre os atacantes mais promissores do futebol árabe. E se houve um momento em que eu pesei essa certeza, foi quando vi o Zeca Camargo falar, há mais de um ano, sobre um tal de Guia do Observador das Nuvens, de Gavin Pretor-Pinney, em seu blog.

A história toda me pareceu um tanto irresistível por conta de uma frase que ele escreveu logo no primeiro parágrafo do texto: “uma pequena obra-prima da leitura que você pode tranquilamente ignorar por toda sua vida, mas que, quando você a encontra, pergunta-se como pôde viver até os dias de hoje sem uma preciosidade dessas.”

Batata.

Nos últimos tempos, peguei o livro nas mãos mais de uma vez, sempre em uma mesma livraria. Sempre aquele único exemplar, à minha espera. Nunca o comprei. Hoje, no entanto, eu meio que o li – bem por cima, é verdade - sentado no café dessa mesma livraria, à tarde. Um espresso, um brownie com sorvete e algumas horas folheando um manual sobre a maneira correta de se olhar para aquilo que o autor chama de o “rosto da atmosfera”. Pronto.

Basicamente, cada capítulo do livro fala de um tipo de nuvem. No último deles, o tema são as do tipo Glória da Manhã – as Morning Glory. Trata-se da “nuvem surfada pelos pilotos de planadores”, explica o texto. “Uma nuvem baixa que parece um rolo de merengue esticado de uma ponta a outra do horizonte, com céus claros adiante e atrás dela.”

Lembre-se de que Morning Glory também é o nome do melhor disco do Oasis. Logo, ninguém conseguiria resistir a um texto sobre uma nuvem chamada assim. Certo?

Ainda sobre a tal Glória da Manhã, nosso amigo Pretor-Pinney narra uma jornada onde tenta convencer pessoas de que “a vida seria um tédio se não tivéssemos mais nada para olhar a não ser a monotonia do azul, dia após dia”. No final das contas, ele acaba por concluir que “atravessou meio mundo só para descobrir (...) que estava pregando para os convertidos”. Essa é a última frase do livro. E eu me assumo incapaz de me lembrar de um fim de texto melhor que esse em qualquer outro livro, de qualquer tempo – ao menos por ora.

Tudo o que eu sei, acima de qualquer coisa, é que vou acabar rolando na cama à noite, sem conseguir dormir, repetindo insistentemente a mesma pergunta: como é que eu pude viver até hoje sem uma preciosidade dessas?

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