Eu queria ser o Nick Hornby por um milhão de motivos. A coluna que ele tinha na The Believer é um deles. Um dia eu falo dos outros.
Como eu não sou ele e não tenho uma coluna em lugar algum, vou escrever aqui mesmo. E vou fingir que sou ele para poder falar das coisas que andei lendo nos últimos dias. E também das que andei vendo – no cinema ou em casa.
Depois de começar assim, talvez eu nem precise mais dizer que (finalmente) li Frenesi Polissilábico. Primeiro eu resisti, é verdade. É que tenho tanta ficção na fila de livros para serem lidos que achei que esse podia esperar. Engano meu. Qualquer pessoa que sonhe em escrever livros um dia precisa ler o que este senhor tem a dizer sobre os mesmos. Só sei que minha lista de leituras pendentes aumentou consideravelmente. E que me deu muita vontade de rasgar tudo o que eu já escrevi na vida.
Vi Brüno. O que não chega a ser uma novidade, já que todo mundo viu. Mas no meu caso não é tão óbvio assim: assisti Borat apenas há algumas semanas; e meio que para me “preparar” para esse Brüno. O filme é constrangedor; muito constrangedor. Mas é tão, tão genial, que você acaba perdoando tudo. O plano para o sábado do Brüno também incluía fazer uma concessão para o cinema brasileiro e assistir Tempos de Paz. Embora eu não crie expectativas para filmes nacionais, esse me pareceu digno de ser visto. Mas só até o momento em que eu assisti o Videocast da Isabela Boscov sobre ele. O que se seguiu foi que eu desisti. Eu sei, isso é coisa de gente sem personalidade, mas a questão é que talvez eu não tenha personalidade mesmo.
Para fechar o assunto cinema, vi Apenas Uma Vez, Amantes e Se Beber, Não Case. O primeiro não é tão novo assim, mas eu só descobri agora. É bom porque é como um disco do Damien Rice tocado do início ao fim. Sem final feliz, sem muitas alegrias, com boas atuações e uma trilha sonora de fazer bater com a cabeça na quina da mesa.
Já Amantes começa com uma tentativa de suicídio. E nenhum filme com um começo assim pode ser de todo ruim. Há cenas ali de uma sinceridade comprometedora. Principalmente para homens. E mais ainda para homens que já passaram da idade de morar com os pais. Daria para esquecer qualquer outra coisa de Amantes e se concentrar apenas na atuação do Joaquin Phoenix (foto), que paga de looser o tempo todo. Mas aí daria muita vontade de chorar quando a gente se desse conta de que o cara, de repente, resolveu surtar e virar rapper. E nunca mais se barbear ou cortar o cabelo. Uma judiação, mas deixa para lá.
Sobre Se Beber, Não Case, não há muito o que dizer. É que eu ando lendo tanta coisa sobre ele que não saberia fugir do lugar comum. O que eu sei é que eu odeio comédias, de uma maneira geral. Mas essa é daquelas que te tomam de ataque e te fazem ficar se perguntando: como é que alguém pode pensar em um roteiro tão bom? O filme me fez sentir muita vontade de ir para Las Vegas. E de ter amigos menos normais. E de me casar logo só para fazer uma despedida de solteiro como aquela.
Finalmente paguei uma velha dívida de leitura: Cinzas do Norte, do Milton Hatoum. Esse é o único escritor brasileiro de ficção que me interessa. O último livro que eu havia lido dele, a coletânea de contos A Cidade Ilhada, vale por seis meses em qualquer oficina literária. E olha que eu nem gosto tanto assim de livros de contos. Mas o problema é que eu achei Cinzas o pior de todos dele. Ou o menos bom, para ficar melhor. Isso porque, por pior que seja, o Hatoum nunca consegue ser menos que bom.
Ainda tentei ler Terras Baixas, do Joseph O'Neill. Ouvi falar do livro quando o Obama resolveu dizer, há muito tempo, que esse era o seu livro de cabeceira. Não acho que o Obama seja digno de ter qualquer recomendação seguida, mas saiu tanta coisa em tantos lugares sobre o livro que eu acabei me interessando pela história. E contei os dias para ele ser lançado no Brasil. Não consegui ir além da página 60. O que eu não entendo é como pode ter tanta gente comparando esse estorvo a O Grande Gatsby. Heresia. Voltei na livraria e troquei por Após o Anoitecer, do Haruki Murakami. Ando meio que determinado a ler tudo desse cara.
Também estou lendo A Cabeça é a Ilha, do Andre Dahmer. Tenho feito isso o mais devagar que posso porque o livro é tão bom que dá dó de terminar. A cada página eu decido que uma determinada tirinha é a melhor que já li dele. Mas isso só dura até a próxima página, quando eu mudo totalmente de ideia e escolho outra.
Também tem o novo disco do Artic Monkeys, que eu esperei tanto para ser lançado – será que ele anda dando sono só em mim? E um monte de shows que estão por vir. Mas aí ficaria extenso demais. Então eu diria que isso ficaria para o mês que vem, caso estivéssemos na Believer. Como não estamos e eu não obedeço a nenhum grupo de jovens que se vestem de branco – o tal do Frenesi Polissilábico – é melhor deixarmos o resto para um próximo post. Ou para nunca mais, caso surja um assunto mais adequado.
quarta-feira, 26 de agosto de 2009
sábado, 15 de agosto de 2009
A glória da tarde
Via de regra, um guia para observação de nuvens me pareceria, a princípio, tão interessante quanto um estudo sobre os atacantes mais promissores do futebol árabe. E se houve um momento em que eu pesei essa certeza, foi quando vi o Zeca Camargo falar, há mais de um ano, sobre um tal de Guia do Observador das Nuvens, de Gavin Pretor-Pinney, em seu blog.
A história toda me pareceu um tanto irresistível por conta de uma frase que ele escreveu logo no primeiro parágrafo do texto: “uma pequena obra-prima da leitura que você pode tranquilamente ignorar por toda sua vida, mas que, quando você a encontra, pergunta-se como pôde viver até os dias de hoje sem uma preciosidade dessas.”
Batata.
Nos últimos tempos, peguei o livro nas mãos mais de uma vez, sempre em uma mesma livraria. Sempre aquele único exemplar, à minha espera. Nunca o comprei. Hoje, no entanto, eu meio que o li – bem por cima, é verdade - sentado no café dessa mesma livraria, à tarde. Um espresso, um brownie com sorvete e algumas horas folheando um manual sobre a maneira correta de se olhar para aquilo que o autor chama de o “rosto da atmosfera”. Pronto.
Basicamente, cada capítulo do livro fala de um tipo de nuvem. No último deles, o tema são as do tipo Glória da Manhã – as Morning Glory. Trata-se da “nuvem surfada pelos pilotos de planadores”, explica o texto. “Uma nuvem baixa que parece um rolo de merengue esticado de uma ponta a outra do horizonte, com céus claros adiante e atrás dela.”
Lembre-se de que Morning Glory também é o nome do melhor disco do Oasis. Logo, ninguém conseguiria resistir a um texto sobre uma nuvem chamada assim. Certo?
Ainda sobre a tal Glória da Manhã, nosso amigo Pretor-Pinney narra uma jornada onde tenta convencer pessoas de que “a vida seria um tédio se não tivéssemos mais nada para olhar a não ser a monotonia do azul, dia após dia”. No final das contas, ele acaba por concluir que “atravessou meio mundo só para descobrir (...) que estava pregando para os convertidos”. Essa é a última frase do livro. E eu me assumo incapaz de me lembrar de um fim de texto melhor que esse em qualquer outro livro, de qualquer tempo – ao menos por ora.
Tudo o que eu sei, acima de qualquer coisa, é que vou acabar rolando na cama à noite, sem conseguir dormir, repetindo insistentemente a mesma pergunta: como é que eu pude viver até hoje sem uma preciosidade dessas?
A história toda me pareceu um tanto irresistível por conta de uma frase que ele escreveu logo no primeiro parágrafo do texto: “uma pequena obra-prima da leitura que você pode tranquilamente ignorar por toda sua vida, mas que, quando você a encontra, pergunta-se como pôde viver até os dias de hoje sem uma preciosidade dessas.”
Batata.
Nos últimos tempos, peguei o livro nas mãos mais de uma vez, sempre em uma mesma livraria. Sempre aquele único exemplar, à minha espera. Nunca o comprei. Hoje, no entanto, eu meio que o li – bem por cima, é verdade - sentado no café dessa mesma livraria, à tarde. Um espresso, um brownie com sorvete e algumas horas folheando um manual sobre a maneira correta de se olhar para aquilo que o autor chama de o “rosto da atmosfera”. Pronto.
Basicamente, cada capítulo do livro fala de um tipo de nuvem. No último deles, o tema são as do tipo Glória da Manhã – as Morning Glory. Trata-se da “nuvem surfada pelos pilotos de planadores”, explica o texto. “Uma nuvem baixa que parece um rolo de merengue esticado de uma ponta a outra do horizonte, com céus claros adiante e atrás dela.”
Lembre-se de que Morning Glory também é o nome do melhor disco do Oasis. Logo, ninguém conseguiria resistir a um texto sobre uma nuvem chamada assim. Certo?
Ainda sobre a tal Glória da Manhã, nosso amigo Pretor-Pinney narra uma jornada onde tenta convencer pessoas de que “a vida seria um tédio se não tivéssemos mais nada para olhar a não ser a monotonia do azul, dia após dia”. No final das contas, ele acaba por concluir que “atravessou meio mundo só para descobrir (...) que estava pregando para os convertidos”. Essa é a última frase do livro. E eu me assumo incapaz de me lembrar de um fim de texto melhor que esse em qualquer outro livro, de qualquer tempo – ao menos por ora.
Tudo o que eu sei, acima de qualquer coisa, é que vou acabar rolando na cama à noite, sem conseguir dormir, repetindo insistentemente a mesma pergunta: como é que eu pude viver até hoje sem uma preciosidade dessas?
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