No início de 2012 eu estava em Londres estudando
inglês e decidi passar um final de semana em Manchester, cidade que eu sempre
quis conhecer e de onde saíram metade das bandas que formaram o meu caráter –especialmente
o Oasis.
Algum tempo antes, ainda no Brasil, eu tinha lido sobre
a quantidade de “tours musicais” que havia por lá. Muito deles temáticos,
passando pela história das bandas surgidas na cidade: Smiths, Joy Division/New
Order, Stone Roses, Oasis. Um desses tours, em especial, me chamou a atenção: “ManchesterMusic Tours”. Quem guiava os grupos era Craig Gill, baterista da banda Inspiral
Carpets, de quem o Noel Gallagher foi roadie antes de entrar para o Oasis.
De Londres, troquei alguns e-mails com Craig. Ele
disse que não havia nenhum tour programado para aquele final de semana, mas que
tinha o sábado livre. O preço era 90 libras, mas faria um desconto e me cobraria
60. “Don't tell anyone”, disse.
Segredo guardado, compromisso firmado, na
sexta-feira após a aula embarquei em um trem na estação londrina Euston com
destino a Manchester Piccadilly. No sábado às 10:30 da manhã ele me pegou na
porta do hostel. O que se seguiu pelas horas seguintes ocuparia espaço demais
para ser descrito aqui (e só interessaria a fãs mais fervorosos da sagrada escritura
do Oasis).
Passei em sua companhia um dos dias mais felizes da
minha vida. Ele me levou a dezenas de lugares relacionados à trajetória da minha
banda favorita e à vida pessoal de seus integrantes. Me apresentou pessoas e
contou boas histórias sobre a época em que excursionou com o Noel. “We played
in Buenos Aires”, disse, tentando estabelecer algum tipo de relação com o cliente
brasileiro.
Havia pouco tempo Craig tinha lançado o livro “TheManchester Musical History Tour”, uma espécie de guia turístico da cidade a
partir de seu legado musical.
Na hora de me deixar de volta no hostel, pedi uma
foto. Fazia um frio glacial. Descemos do carro e avistamos duas meninas vindo
pela calçada. Pedi para uma delas bater uma foto nossa. Elas fizeram cara de
surpresa, tentando entender o que havia para ser fotografado ali. Craig explicou, apontando para mim: "he is very
famous in Brazil".
Só mais tarde reparei que ele tinha saído com os
olhos fechados na foto. Prometi para mim mesmo que um dia voltaria a Manchester
e faria de novo aquele “Oasis Tour” com ele. Passando pelos mesmos lugares e
ouvindo as mesmas histórias. No final, pediria uma foto e me certificaria de
que ele tivesse saído com os olhos abertos.
Nunca vou me esquecer daquele 21 de janeiro de 2012.
Foram as 60 libras mais bem gastas da minha vida.